Extraído da revista Iesus Christus, edição n.12
(publicação do Distrito da América do Sul da Fraternidade São Pio X)

 

Recentemente dois bispos, Dom Sarlinga da diocese de Zárate-Campana (província de Buenos Aires, Argentina) e Dom Cipollini da diocese de Amparo (estado de São Paulo), publicaram documentos relativos à Fraternidade Sacerdotal São Pio X. Ambos – refletindo outro publicado em outubro pelo bispo de Albano, Itália – guardam semelhança: pretendem declarar que nossa congregação não é católica e ameaçam com sanções os fiéis que recebam os sacramentos da Fraternidade. Chamam a atenção, pois se opõem às conclusões da Cúria Romana e à praxe episcopal em outras dioceses.

Assim, sem a intenção de ficar repetindo as razões que justificam nosso trabalho, basta-nos recordar documentos da Santa Sé que contradizem o que eles pretendem. A saber:

Em 4 de junho de 1993, a Sagrada Congregação para a Doutrina da Fé emitiu um decreto firmado pelo então Cardeal Ratzinger, declarando “nulo e de nenhum valor o decreto do ordinário de Honolulu”, Dom Joseph Ferrario, que havia excomungado a Srta. Patrícia Morley por ter sido confirmada por um bispo da Fraternidade.

Em 3 de maio de 1994, o Cardeal Edward Cassidy, Presidente do Pontifício Conselho para a Unidade dos Cristãos, em nota de resposta enviada ao Sr. J. G. Br. (Austrália), Prot. N.º 2336/94, afirma que “a situação dos membros da Fraternidade é um assunto interno da Igreja Católica” e que “a Fraternidade não é uma ‘igreja’ ou ‘comunidade eclesiástica’”, tal qual o são as igrejas separadas de Roma; e que “portanto, as missas e os sacramentos ministrados pelos sacerdotes da Fraternidade são válidos”.

Em 18 de janeiro de 2003, Dom Camille Perl reafirma os termos de uma resposta dada em 27 de setembro de 2002, relativa às seguintes perguntas: “Posso cumprir minha obrigação dominical assistindo a uma Missa da Fraternidade São Pio X? Minha resposta foi: Em sentido estrito, você pode cumprir sua obrigação dominical assistindo a uma missa celebrada por um sacerdote da Fraternidade São Pio X (…). É pecado contribuir com a coleta dominical em uma Missa da Fraternidade São Pio X? Ao que respondemos: Ao que parece, poderia se justificar uma contribuição modesta com a coleta dessa Missa”.

Por ouro lado, recentemente a Fraternidade Sacerdotal São Pio X acaba de realizar uma peregrinação internacional ao Santuário de Lourdes (França), para o qual o bispo de Tarbes-Lourdes, Dom Nicolas Brouwet, pôs à disposição a Basílica São Pio X. Como conciliar isto com a proibição de Dom Sarlinga, de que os sacerdotes da Fraternidade São Pio X não celebrem missas nas igrejas, nem ministrem os sacramentos, nem que seja lícito aos fiéis católicos assistir a elas, nem requerer sacramentos dos sacerdotes da Fraternidade, e tudo isso sob pena de excomunhão? Como entender que, fazendo de outra maneira – como diz o bispo de Albano – romperiam a comunhão eclesiástica, quando a Pontifícia Comissão Ecclesia Dei afirma que assistindo às missas da Fraternidade se cumpre o preceito dominical e o preceito de contribuir com sustento da Igreja? Como conciliar que o Papa Bento XVI tenha retirado a “excomunhão” – as aspas, leitor, são intencionais – dos bispos sagrados por Dom Lefebvre e que, por outro lado, “qualquer fiel que solicite ou receba sacramentos da Fraternidade (…) se coloca a si mesmo de fato em condição de não estar mais em comunhão com a Igreja católica apostólica romana”? Os bispos já não estão “excomungados”, nem de fato nem de direito, e os fiéis sim?

Estes argumentos, estimados fiéis da Tradição, só são ad hominem – isto é, para rebater um interlocutor com o qual não se compartilha os mesmos princípios argumentando com razões que ele admite. As razões profundas de nosso trabalho, tal qual nosso fundador no-las transmitiu, derivam da fidelidade à verdadeira e imutável fé da Igreja, além deste ou daquele argumento canônico. Como recordava São Pio X na “ Iucunda sane”: “Veritas una est nec dividi potest; eadem æterna perdura, nullis obnoxia temporibus; Iesus Christus heri et hodie: ipse et in sæcula” (“A verdade é única e não se pode dividir; permanece eterna, sem se dobrar aos tempos; Jesus Cristo é o mesmo ontem, hoje e sempre”, Hebr. 13, 8).