Estimados Amigos e Benfeitores :

A Missa tradicional nunca foi ab-rogada! Que alegria, estimados fiéis, encheu os nossos corações quando do anúncio do Motu Proprio de Bento XVI, em 7 de Julho! Vimos nele uma resposta do Céu à nossa Cruzada de Rosários. Não simplesmente pela publicação do Motu Proprio, mas sobretudo devido à extensão da abertura para a liturgia tradicional que nele encontramos. Com efeito, não é apena o Missal que é declarado lei da Igreja, mas também outros livros litúrgicos.

É preciso afirmar que, se a Missa nunca foi ab-rogada, conservou os seus direitos. O Motu Proprio, na realidade, não concede nada de novo à Missa de sempre, simplesmente afirma que a Missa de São Pio V, chamada de João XXIII para a ocasião, esteve sempre em vigor, apesar da ausência e interdição de a celebrar durante perto de quarenta anos. A Missa Tridentina foi sempre a Missa Católica. A subtil e inábil distinção entre forma ordinária e extraordinária de um mesmo rito, para falar da nova e da antiga Missa, não enganará ninguém.

A evidência fala por si mesma neste domínio. O que é preciso reter é a afirmação da perenidade da Missa como lei universal da Igreja Católica. Quem diz «lei da Igreja» diz, por isso mesmo, nem indulto, nem permissão, nem condições. Os bispos tentam neutralizar o efeito salutar do Motu Proprio com restrições constrangedoras e odiosas. Não seguem, certamente, a vontade do Soberano Pontífice. Será muito interessante observar o desenvolvimento desta insurreição mais ou menos aberta, em grande parte escondida. Dessa confrontação vai depender a história da Igreja durante vários decênios. Rezemos para que o Papa tenha a força de manter e de impor aquilo que acaba de dar à Igreja.

Tal vai mais longe do que a simples celebração da Missa. O Motu Proprio reabre a porta ao espírito litúrgico anterior, no sentido em que permite que se desenvolva. A liturgia compõe-se de elementos diversos, dos quais o mais importante é, evidentemente, a Santa Missa, mas este tesouro está engastado num conjunto de livros litúrgicos.

Ora, é forçoso verificar que a maior parte deles, em todo o caso os mais conhecidos, vai encontrar uma nova vida: o ritual, que contém a maneira de conferir os sacramentos pelo padre, assim como as bênçãos; em parte, o pontifical que contém o Sacramento de Confirmação, e o Breviário. Tudo isto forma um conjunto que, sem dúvida, permitirá ao espírito litúrgico tradicional reencontrar um lugar na vida da Igreja.

Os primeiros efeitos do Motu Proprio são interessantes, mesmo que sejam quase insignificantes quando se considera a vida da Igreja no seu conjunto. No entanto, alguns bispos apóiam ativamente o movimento e, sobretudo, apesar das dificuldades impostas por outros Ordinários, os padres aprendem e começam a celebrar a Santa Missa. São mais de 5.000, no mundo inteiro, que pediram os filmes, preparados pela Fraternidade, descritivos das cerimônias da Missa. Isto mostra bem como os padres têm interesse pela Missa de sempre!

O mais admirável é a opinião unânime dos padres que descobrem a Missa Tridentina. Os testemunhos seguintes não são raros: «mas, são dois mundos!»; «celebrar voltado para o altar ou voltado para o povo, é completamente diferente!»; «ao celebrar a Missa, descobri quem o padre é!».

Estes testemunhos dizem muito e valem por todas as demonstrações.

É inútil perguntar-lhes o que pensam da santidade do novo rito… É evidente que, se uma verdadeira liberdade de celebração estivesse garantida, não somente de direito, mas de fato, o número de Missas tridentinas seria imediatamente decuplicado.

E, para quem está consciente do combate gigantesco que causa estragos na nossa Igreja Católica desde, pelo menos, há dois séculos, é bem claro que, em redor da Missa, se joga grande parte da crise da Igreja. Duas Missas, duas teologias, dois espíritos. Com a Missa nova foi inoculado um novo espírito nas veias do Corpo Místico, «o espírito do Vaticano II». A Missa tradicional, pelo contrário, irradia o espírito Católico. O rito de São Pio V implica uma incomparável coerência de fé e de moral. Para quem a ele assista seriamente, manifesta-se rapidamente que essa Missa é uma exigência de fé, fé que ela alimenta vigorosamente. Depressa aparece na alma do fiel a lógica da fé: o justo vive da fé. Deve viver-se como se crê. Toda a moral cristã, com tudo que exige de renúncia, de sacrifício, de separação do mundo, decorre disso. Deus é Santo, e quem d’Ele se quiser aproximar deve viver vida de pureza, porque a santidade exige da alma este vestido imaculado. Não somente a Missa faz abrir os olhos para esta realidade, para a sublimidade da vocação cristã, mas, sobretudo, dá os meios para isso. Que abundância de graça se derrama sobre o fiel de «boa-vontade» e ainda mais vantagens sobre o padre que a celebra!

Então, essa graça irradiante inspira ainda outra santificação: a da família cristã e, em breve, de toda a sociedade. Se durante séculos e mais de um milênio a sociedade foi cristã, é preciso atribuí-lo, antes do mais, à Missa, a esse santo rito que já se encontra acabado no final da Antiguidade. Podemos celebrar, sem dificuldade, a Missa chamada Tridentina, ou de São Pio V, pelos manuscritos dos séculos X ou XI.

E é também impressionante verificar que a decadência, até mesmo a desaparição da sociedade cristã, encontra uma clara aceleração no momento da introdução do novo rito. Quem quererá encontrar aqui mais do que um acaso ou uma coincidência?

Estamos sempre muito embrenhados no gigantesco combate pela salvação das almas que atravessa a História da humanidade. Esperemos que os avanços operados pelo Motu Proprio não façam perder de vista estas perspectivas bem mais profundas, motivo de esperança, mas também de coragem renovada para continuar o combate na via traçada por D. Lefebvre.

O sucesso obtido com a nossa Cruzada do Rosário, o zelo que nela empenhámos, incita-nos a renovar a nossa confiança na nossa Mãe do Céu, não com uma Cruzada de um ou dois meses, mas com uma Cruzada Perpétua do Rosário. Sim, que esta oração não cesse de se elevar para o Céu para bem da Igreja, para salvação das almas! Estamos persuadidos de que Nossa Senhora não ficará indiferente a tal assalto de Ave-Marias e que apressará a restauração da Igreja. Segundo a bela expressão de um general suíço, General Guisan, ao ver um soldado a rezando o Terço: «Como eu gostaria de ver a Suíça cercada com esta corrente!», queremos cercar a Igreja inteira com a corrente do Rosário, cercá-la com uma imensa e contínua seqüência de Ave-Marias para sua defesa e proteção.

Desde agora, portanto, lançamos a Cruzada Perpétua do Rosário, para obter do Céu não só que o decreto de excomunhão seja retirado, mas, sobretudo, para que a Tradição Católica seja restabelecida no lugar que lhe é devido, em toda a sua amplidão, até ao triunfo do Coração Imaculado de Maria.

Que todos os santos venham em nossa ajuda! Que Nossa Senhora vos abençoe!

+ Bernard Fellay
Na Festa de Todos os Santos,
1º de Novembro de 2007