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Presa há um ano em uma prisão paquistanesa por “blasfêmia contra o profeta Maomé”, Asia Bibi, uma cristã de 45 anos, foi condenada a morte em 11 de novembro de 2010 pelo Tribunal de Sheikhupura da província de Penjab, situada no leste do país. Embora o governador tivesse declarado sua inocência, os magistrados julgaram-na culpada e até ameaçaram entrar em greve caso a decisão não fosse aplicada. Mas, sob pressão internacional, especialmente a do Papa, o presidente do Paquistão, Asif Ali Zardari, anunciou em 21 de novembro sua intenção de perdoar e libertar esta mãe de quatro filhos, se a justiça do país o permitisse. A justiça se recusou a aprovar a decisão,  sustentando que o julgamento ainda estava em andamento.

O caso remonta a junho de 2009. Enquanto trabalhava no campo com  outras mulheres, pediram a Asia Bibi que buscasse água para refrescar o grupo. Mas os outros trabalhadores, muçulmanos, recusaram-se a beber água “impura” trazida por uma cristã. Todas as diferentes versões dos acontecimentos dizem que Asia Bibi foi ameaçada se não renunciasse à sua fé. Sem dúvida, por ter recusado, o mulá do distrito foi ver os policiais, que imediatamente fizeram uma varredura e prenderam esta mãe de família em razão do artigo 295 C do código penal paquistanês. Com efeito, esta lei “anti-blasfêmia” prevê prisão perpétua ou pena de morte para qualquer “insulto” contra “o profeta Maomé”.

Em 17 de novembro, na Praça de São Pedro, Bento XVI solicitou a libertação dos acusados. “Nestes dias, a comunidade internacional está seguindo com muita preocupação a difícil situação dos cristãos no Paquistão, que são frequentemente vítimas de violência e discriminação”, lembrou o Papa. Ele também afirmou estar em pensamento com Asia Bibi e seus entes queridos ameaçados de morte. Por fim, pediu que “a sua plena liberdade seja restaurada o mais rapidamente possível”. Este pedido foi parcialmente ouvido, dado que o presidente tentou perdoar Asia Bibi e ela terá o direito a um novo julgamento para provar sua inocência. Mas mesmo se a acusada obtiver sua liberdade, provavelmente terá que fugir do Paquistão com toda a sua família.

Como disse a edição online de 29 de novembro do jornal Le Figaro: mesmo que “a maioria das condenações sejam rejeitadas quando sofrem apelações, os culpados são às vezes linchados pela multidão “. Uma aliança entre sunitas muçulmanos do Paquistão (o Conselho Sunita Ittehad) já advertiu que se o perdão for concedido levará a um desencadeamento de anarquia no país. “Nossa posição é muito clara: ela não pode escapar desta punição”, insistiu Sahibzada Fazal Kareem, o líder do Conselho Sunita Ittehad, em 26 de novembro para a AFP. Nestes últimos meses, a violência anticristã cometida em nome da lei “anti-blasfêmia” tem-se multiplicado, particularmente na província de Penjab, a mais populosa, em um país com cerca de 3% de cristãos.

Absolvição do assassino da jovem Shazia Bashir

Na mesma linha do caso Asia Bibi, outro julgamento acabou de ocorrer no Paquistão. Naeem Chaudhry, um rico advogado muçulmano que tinha estuprado e matado uma menina cristã de 12 anos, Shazia Bashir, foi absolvido em 30 de novembro pelo Tribunal de Lahore, na província de Punjab. Ele, sua esposa e seu filho, no entanto, eram fortemente suspeitos de terem obrigado a menina a trabalhar como empregada doméstica, confinando-a em sua casa e estuprando-a antes de ela sucumbir aos espancamentos diários a que foi sujeita.

Embora o assunto tenha causado muita agitação em um bom número de organizações e pessoas da sociedade civil paquistanesa, o tribunal declarou que Shazia “morreu de morte natural por causa de uma doença de pele”. Segundo a agência de notícias Fides, o julgamento e as provas foram habilmente manipulados de forma a exonerar aqueles muçulmanos proeminentes de classe média-alta. “Para a família do Shazia, a justiça não será feita”, Nasir Saeed comentou à Fides em 27 de novembro. “Esta não é a primeira vez, em casos deste tipo, que os julgamentos deixam cidadãos muçulmanos influentes  impunes, apesar das atrocidades cometidas contra cristãos pobres e indefesos”, disse Saeed, chefe do Centro para Assentamento e Ajuda Legais, que oferece assistência jurídica gratuita aos cristãos no Paquistão e tem sede em Londres e em Lahore. Para Peter Jacob, secretário-executivo do Comitê “Justiça e Paz” dos Bispos do Paquistão, o veredito é “vil” e “demonstra que determinadas pessoas estão acima da lei”.

Esta decisão parece ainda mais injusta, uma vez que tráfico de seres humanos menores de idade está por trás do caso de Shazia Bashir. As crianças são arrancadas dos pobres, muitas vezes famílias cristãs, levadas a acreditar que isso lhes dará acesso a uma vida com dignidade nas famílias burguesas. Em seguida, são vendidas, tornando-se “pequenas escravas”, à mercê de seus proprietários, privadas de toda a liberdade.

Retirado e traduzido de Dici.org