pelo Rev. Pe. Xavier Beauvais

 

Vocês já foram adolescentes um dia e desde então começaram a ver o mundo com novos olhos.

 

Os novos horizontes da idade adulta

Sua imaginação voava para um novo horizonte: o da idade adulta. Vocês passaram a observar, de um modo diferente, homens e mulheres viverem. Talvez vocês tenham procurado imitá-los. A preocupação com o amor tinha até brotado em seu coração, mas vocês eram ainda muito jovens para ousar falar. As pessoas zombariam de vocês e vocês sabiam disso. Idéias confusas e imaginações loucas talvez lhes tenham passado pela cabeça. A educação familiar e a formação religiosa se esforçavam para estabilizar tudo isso, para dar um espaço, uma posição, um sentido, um objetivo a cada um desses chamados interiores. Mas ao mesmo tempo vocês eram solicitados por um clima social, um estilo de vida, talvez atraídos pela sedução dos meios de comunicação, os cartazes, os folhetos, as palavras, os sons que destilam um vazio sentimental, uma falsa concepção do amor humano, que infelizmente difundem uma concepção materialista e errada do amor humano.

Um empresário fez a seguinte observação:

Oferecem-nos “fatias de vida” habilmente dispostas e de um poder sugestivo impressionante. As histórias limitam-se freqüentemente à evocação de efêmeras conquistas sentimentais, de desentendimentos conjugais, temperados com cenas escandalosas das mais diversas. Quanto mais a vaidade da mulher é exaltada, mais a fidelidade do marido é colocada à prova. Sendo a vida moral dos cônjuges sem verdadeira consistência, é fácil imaginar que em cada romance há pessoas que sucumbem. E os naufrágios são numerosos, tanto perto das margens quanto em alto mar. Poder-se-ia pensar que isso é normal. Ilusões amorosas, incompreensão dos esposos, fuga de um, desespero do outro, brigas, voltas, casos de histeria, … e tantas outras coisas!”

 

As quimeras modernas

Rádio, televisão, jornais, internet, revistas; sabemos o que tudo isso sugere.

Saiamos agora do meio familiar. Vocês estavam numa idade em que a imaginação freqüentemente ficava sem rédeas, sem grande consciência do que estava conforme a lei natural e o que não estava. Vocês não tinham nenhuma experiência, mas queriam – e isso era legítimo – saber e compreender o plano de Deus sobre o amor humano. E o que lhes revelavam as ruas, as bancas de jornal, os romances baratos, a propaganda no metrô e no cinema, os outdoors, as leituras, os filmes, as músicas, toda essa sarabanda que os escoltava um pouco por toda parte para incrustar-se melhor em suas imaginações? O que lhes diziam, e dizem hoje mais do que nunca, sem nunca formulá-lo, essas imagens, esses filmes, essas músicas, essas publicidades?

Ora, elas dizem que:

– o amor, em primeiro lugar, é uma ocasião de prazer sentimental.

– o amor, em segundo lugar, é uma ocasião de prazer físico.

O discurso que a sociedade contemporânea oferece a vocês, rapazes e moças, não é somente estúpido e chocante, é simplesmente odioso. A imagem do prazer é de fato evocada por todas as fotos de revista, todos os filmes, onde somente uma silhueta física ocupa a imaginação. Ora, essa silhueta, essa criatura fictícia não tem nem coração, nem caráter, nem pudor. Ela não tem pai nem mãe, nem meio social, nem tradição nacional; ela não tem esposo, nem filhos, ela nunca os terá. Ela não é mais uma mocinha, ela nunca será mãe. Tudo que constrói a dignidade, a nobreza da mulher cristã, foi destruído, arrancado, desenraizado dela, isto é, a virgindade e a fecundidade.

Eis o que o depravado materialismo contemporâneo exibe em milhões de exemplares: uma criatura sem alma.

Como vocês sabem, é um clima tão habitual, tão permanente, que há um grande risco de sucumbir a ele sem se notar, um risco de não mais sentir, ao menos confusamente, que tudo isso é abjeto. Uma aspiração secreta, profunda e pura, até agora protegida pela graça divina, tão viva na alma de vocês quando eram crianças e até mesmo adolescentes, é então lenta e progressivamente imbuída, manchada pela obsessão quotidiana dos olhares, das palavras, das músicas que o cinema, a internet, propagandas e revistas sugerem, fazendo de vocês cúmplices vergonhosos.

Eis aí o cenário no qual vocês crescem hoje em dia. Essa é a concepção diabólica da economia social onde o gosto pela fortuna justifica todos os meios, inclusive os que desonram o amor, rebaixam as almas e destroem os lares. Tudo isso faz com que vocês tenham de enfrentar dificuldades maiores e mais numerosas do que as gerações anteriores. Vocês são inconscientemente moldados por tudo isso. Entretanto, lembramos-lhes algumas verdades cristãs sobre o casamento. Foi no colégio, em casa, ou na Igreja que vocês aprenderam, mas, para muitos, infelizmente, as questões de moral só chegam como proibições, tabus, e freqüentemente só surgem aí afirmações sem sentido, formalistas, convencionais.

E então, sob o aguilhão desse clima social, só há mais um passo a dar antes de afirmar que a moral cristã não é mais adaptada a nosso tempo, que não é prática, que não leva em conta os fatos, que é preciso alinhar-se à moda. Instala-se então a revolta contra tudo o que não segue a correnteza da facilidade, que oferece tantas e diversas solicitações. E sabemos onde essa correnteza pode levar.

 

Perigosos deslizes

Um deles são certos namoros. Mesmo com uma intenção mais ou menos longínqua de casamento, quantos namoros deixam de seguir, na maioria das vezes, a reta intenção de conhecer para depois comparar, para melhor escolher. O que alguns procuram nessas amizades é uma intimidade sentimental, uma necessidade de afeto que se quer suprir. Ora, isso não merece o nome de amor. De uma parte e de outra, é o egoísmo da sensibilidade que se procura satisfazer, satisfação que degradar-se-á progressivamente.

Esses encontros que acontecem sobretudo no escuro de uma sala de cinema, na atmosfera estressante de uma noitada, ou que continuam até tarde da noite em uma boate, expressam – vocês não negarão – expressam muito mais um desejo lancinante de intimidade física do que uma reserva profunda, nobre, e verdadeira de um rapaz e de uma moça que procuram conhecer-se verdadeiramente para saber, antes de confessar seu amor, se essa afirmação provém de um instinto indiferente ou se nasceu de motivos profundos, sérios e íntimos de suas almas.

Talvez todas essas questões não pareçam tão importantes para vocês que ainda não são casados. Entretanto, às vezes elas surgem de maneira trágica nos meses depois do casamento. Assim que o fogo do desejo é diminuído, são na verdade duas almas que se encontram face a face, dois caráteres, duas atitudes perante a vida … e às vezes, que pena!, dois egoísmos se defrontam. E quando a obnubilação de uma atração exclusivamente sensível é dissipada – e a experiência mostra que essa nuvem se dissipa rapidamente – jovens esposos, jovens esposas, sem ousar dizê-lo, começam a fazer comparações: “Ah, se eu tivesse casado com fulano … ele era menos atraente mas tão mais sólido”; “Se tivesse escolhido beltrana! Ela era menos vaidosa, mais reservada, mas hoje me parece muito mais feminina!”

Não é escutando cegamente nossas paixões que nos preservamos das adversidades. Existe uma armadilha sutil, freqüente, da qual só se escapa com a ajuda do Espírito Santo. É a armadilha de crer que rapazes e moças estão apaixonados na medida em que são irracionais. Não teria a razão nenhum papel a desempenhar no campo dos sentimentos? Há contradição e impossibilidade de conciliar o ponto de vista do coração com o da inteligência? Mesmo sendo a juventude a idade das paixões, ela não pode, por causa disso, viver em constante revolta contra a sabedoria prudente da maturidade. A razão não é inimiga do amor humano. Acompanhar nosso amor de reflexões, de observações, de meditações deliberadas não é enfraquecê-lo ou traí-lo, pelo contrário, é enriquecê-lo. A questão não é somente insuflá-lo com uma inspiração cega e apaixonada; é submetê-lo a uma outra inspiração, razoável e voluntária. É permitir ao amor que, depois do casamento, permaneça intacto, fortifique-se; é alimentar uma chama viva, a mesma que ilumina e aquece o lar.

 

Pensar antes de agir

A ordem natural das coisas num tal assunto é primeiramente julgar antes de decidir; em segundo lugar, procurar conhecer antes de chegar ao amor. Ora, por uma singular reversão devida à tentação, os jovens têm a tendência de decidir antes de julgar, e de amar antes de conhecer. É bom, é necessário julgar um rapaz, julgar uma jovem antes de decidir desposá-lo(a). É bom e necessário, tanto quanto razoavelmente é possível, conhecer o caráter, as aptidões, os gostos, as qualidades morais daquele ou daquela a quem se pensa unir sua vida, antes de se deixar levar por sonhos e desejos.

É difícil, me dirão! Sim. É doloroso? Sim, isso exige, incontestavelmente, uma renúncia interior. Mais doloroso é enganar-se, unir sua vida a um desconhecido, uma desconhecida, simplesmente porque pensamos que seu sorriso, seu olhar, ou sua situação, sua fortuna ou sua classe social eram promessas suficientes de felicidade.

Assim, existem moças que desposam uma silhueta, um automóvel ou uma situação. Cinco ou dez anos mais tarde, no fundo de seu coração, quando sofrem o egoísmo do marido e todas suas terríveis conseqüências, será que elas pensam que os motivos que determinaram seu casamento já prognosticavam tal infelicidade? Elas não pensaram no perigo que as ameaçava. Pensavam que os homens eram sempre mais ou menos egoístas. Quanto às riquezas, ao físico agradável ou à inteligência, isso nem sempre todos têm…

Existem também rapazes que desposam um sobrenome, um carinho ou uma herança futura, ou até mesmo uma cultura excepcional. E descobrem tarde demais que em outros lares a vida é mais doce, a comida melhor, as crianças mais bem cuidadas, mais educadas, a casa mais limpa, e que todos esses detalhes são exclusivamente o reflexo de um amor mais profundo, de um devotamento mais terno.

 

Os encontros católicos

É pensando nesses casos que entendemos o papel das relações entre rapazes e moças no seio de uma paróquia, dentro de um movimento católico. A função desses encontros não é esboçar, num plano inconscientemente egoísta, um laço sentimental, para esperar mais confortavelmente a idade ou a hora do casamento. A função desses encontros que vocês têm em grupo, quando saem todos juntos é, antes de tudo, ensinar-lhes a julgar-se reciprocamente. Nessa ocasião, a procura inquieta de uma intimidade sentimental ou de abandonos mais equívocos manchará a alma daqueles que estão na idade em que se decide seu destino.

É preciso que vocês, mais do que nunca, deixem Jesus Cristo viver e agir em suas almas, que devem ser constantemente alimentadas pela oração e pelos sacramentos. É Ele, Jesus Cristo, quem lhes dará a força de permanecer inteiramente reservados para o dom total que supõe um amor total. É Ele quem lhes dará a luz para bem julgar, evitando que a paixão chegue a obnubilá-los.

Tenham esta fé, a fé de que Deus sabe melhor do que vocês o que convém à sua verdadeira felicidade. Isso fará com que vocês evitem substituir a providência dEle pela sua própria vontade, a confiança em vocês próprios à confiança nEle.

É através da graça, usando de uma verdadeira liberdade, que vocês se encontrarão, caso sejam chamados ao matrimônio: é a verdadeira liberdade que os fará evitar encontros cujo objetivo não é conhecer-se nem julgar-se mas somente medir fraquezas e viver aventuras de prazer. Essas aventuras são de tal maneira imprudentes que destroem antecipadamente a felicidade conjugal, porque  só servem para exacerbar o egoísmo de cada um dos futuros cônjuges. Como vocês serão amanhã, espontaneamente, ocasião de aperfeiçoamento mútuo, se hoje, inevitavelmente, são um para o outro, ocasião de queda?

 

Bibliografia:   « La joie d’aimer » (Marcel Clement)

« Le combat pour ces jeunes » (Yves Salem)