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No Vaticano, quando do recente sínodo sobre o Médio Oriente, esteve como convidado um aiatolá chiita iraniano que afirmou, sem franzir o cenho, que não havia «nenhum problema, nenhuma dificuldade nas relações entre o islã e o cristianismo em qualquer país muçulmano». Esta afirmação, que contraria o exílio constante das populações cristãs do Oriente Médio, não suscitou qualquer protesto dos bispos presentes. O Cardeal Jean-Louis Tauran, responsável pelo diálogo inter-religioso, disse apenas que a declaração do aiatolá era surpreendente.

Perante a ausência de reação, em nome do diálogo inter-religioso pregado pelo Vaticano II, é útil reler a carta aberta dirigida, em Outubro de 2008, a Bento XVI por Magdi Christian Allam, vice-diretor do Corriere della Sera, muçulmano convertido e batizado pelo próprio Papa, na noite Pascal de 2008.

Declarava ele:

«pergunto-me se a Igreja se dá conta que não afirmando, e não se erigindo como testemunha da unicidade, do carácter absoluto, da universalidade da Verdade em Cristo, não acaba por se tornar cúmplice da construção de um panteão mundial das religiões, onde toda a gente considera que cada religião é depositária de uma parte da verdade, mesmo se cada religião se atribua o monopólio da verdade.

«Não é de admirar, depois de tudo isto, o fato de o cristianismo, colocado no mesmo plano de uma miríade de outras crenças e ideologias que dão as respostas mais díspares às necessidades espirituais, cesse de fascinar, persuadir e conquistar os espíritos e os corações desses mesmo cristãos, que cada vez mais se ausentam das igrejas, que fogem da vocação sacerdotal e que, geralmente, excluem a dimensão religiosa da sua vida. (DICI nº 188, 17 de Janeiro de 2009, p. 7)

Já é tempo de compreender que um diálogo inter-religioso, em que a reciprocidade está ausente, não é mais diálogo, mas mercado de ilusões.

Rev. Pe. Alain Lorans

Retirado de DICI nº 224, outubro/2010