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Essa citação das escrituras, do Salmo 90, lembra-nos que falsos irmãos (aqueles à direita) são mais perigosos que inimigos declarados (aqueles à esquerda). Na guerra de guerrilha a qual o mundo tradicionalista teve de empreender contra as forças da apostasia, faz-se bastante compreensível, senão trágico, que se dêem divisões dentre as fileiras daqueles que ‘”mantêm a tradição de seus antepassados’’. No ardor do alvorecer da Igreja Católica, sob o sol de um magistério claro e de autoridades irrepreensíveis, fé e moral são indiscutíveis e bem delineadas, de modo que apenas os cegos e os coxos recusam-se a seguir o caminho da retidão.

Quando a Igreja entra em estado de eclipe, as coisas começam, então, a complicar-se. ‘’Porque se a trombeta der um som confuso, quem se preparará para a batalha?’’, diz São Paulo; quando o sol do magistério eclesiástico se põe, quando a fonte da verdade e da moralidade dá uma mensagem obscura, quando estamos todos envoltos na penumbra da ambiguidade e da incerteza, para onde podemos nos voltar? O melhor caminho para casa é voltar por onde viemos, refazendo nossos passos, porque esses são, pelo menos, caminhos familiares e seguros. E é isso que o pequeno remanescente faz.

Ainda que nenhum homem seja uma ilha, há um esforço necessário para se organizar de algum modo, por questões de sobrevivência. Assim, não é surpresa alguma que muitas boas almas vieram envoltas de boa vontade e energia, para construir em terreno seguro. Mas então o inimigo veio e semeou o joio onde o trigo estava crescendo sem vigilância; divisão e caos se seguiram, através da sempre bem-sucedida estratégia de ‘’dividir para conquistar’’. Se o desenvolvimento da tradição tivesse permanecido constante, apresentando uma linha unida contra a investida da Roma modernista, há poucas dúvidas de que o processo de auto-demolição da Santa Madre Igreja ter-se-ia significativamente atrasado. Contudo, o homem, como o filho de Adão que é, teve de colocar seus dois talentos na equação e colocar um grão de areia nas rodas dentadas da Tradição.

Após a traição dos covardes e dos fracos, veio a deserção dos sedevacantistas, que tenderam à divisão indefinida entre si. Então vieram aqueles dentre os filhos do Arcebispo Lefebvre, seu pai espiritual, que o deixaram pelas miragens de rosas e lílios da Roma modernista. Essas são as muitas lápides espalhadas pelo cemitério da ‘’Guerra dos Veteranos da Tradição’’; lápides de cães mudos, proibidos para sempre de latir perante a loucura das pobres autoridades da nossa Igreja, em troca de um lugar mais próximo ao sol e um pedaço de papel que os coloca ‘’dentro’’ da Igreja Católica. Seu nome é legião: O monastério de Le Barroux, a Fraternidade de São Pedro, Bispo Rifan e Campos, o Instituto Cristo Rei, o Instituto Bom Pastor…

Então, para finalizar o quadro, vemos padres meio-tradicionalisas, operando pelo gracioso motu proprio do Papa Bento XVI, liberando a missa de sempre. Esses padres estão, infelizmente, no meio do caminho entre o velho e o novo em mais aspectos que apenas a liturgia, e essa realidade não faz com que eles fiquem muito palatáveis para nós. Será que podemos realmente confiar nossas almas a alguém que deveria ser nosso padre, sendo a primeira condição que ele seja um padre de fato e um exemplo para nós e nossos filhos? Tais almas se entregam inteiramente ou em parte para líderes obscuros e não confiáveis. Quem deixaria sua filha entrar em um carro dirigido por um insano? Não é isso que muitos de nossos amigos estão fazendo quando, por razões misteriosas, decidem pegar e escolher a qual igreja tradicional eles querem ir?

Fonte: The Pastor’s Corner – sspx.org