Assunto: Apostolado em tempos de epidemia;

Comunicado nº 3

Caros fiéis,

Esta manhã em São Paulo, apenas alguns ruídos quebraram o silêncio: o canto distante de um galo, o latido dos cães, o choro das crianças e o som dos sinos da nossa Capela. Os sacerdotes celebraram as suas Missas numa capela vazia… Fechar os lugares de culto é uma decisão difícil para todos os pastores de almas. Estas medidas excepcionais são ditadas por uma situação igualmente excepcional. Muitos países se encontram nas mesmas condições. 

Consideramos a proibição do culto público como uma medida de precaução e pretendemos respeitá-la, com base nas seguintes considerações: 

1) Em princípio, o Estado tem o direito de tomar medidas para proteger a população contra os perigos. O fato de que a extensão do perigo possa ser avaliada de forma distinta pelos indivíduos não os isenta da obediência civil. 

2)   A obediência às leis do Estado não está em contradição com a Fé. 

3) É um fato que a ação do COVID-19 nos idosos avança rapidamente e pode ser fatal. 

O preceito do domingo não obriga sob grave incômodo (quando há um obstáculo grave e inevitável). Portanto, os sacerdotes não estão obrigados a celebrar as Missas dominicais em público, se eles e os fiéis pudessem sofrer um castigo por parte do governo (uma multa altíssima, processo por descumprimento da ordem judicial bem como pena de prisão, interdição da Capela, etc). 

Os Padres têm a obrigação grave de administrar os sacramentos, se quem os pedem pudessem sofrer sérios danos espirituais se não os recebessem. Mas aqueles que não podem assistir à Missa dominical porque não é celebrada publicamente, por uma medida prudencial de exceção, não sofrem um dano espiritual gravíssimo e irreparável. E aqui devemos confiar no poder da Graça e na Providência Divina. A suspensão de celebrar as Missas dominicais em público devido a graves circunstâncias adversas não é uma questão de fé, senão de prudência. O essencial é que os sacerdotes ainda podemos celebrar o Santo Sacrifício da Missa em privado para o bem dos fiéis e estar sempre disponíveis para as necessidades espirituais e sacramentais dos fiéis. 

No tempo dos mártires, os ofícios religiosos eram proibidos por ódio à fé. A atual proibição da celebração pública das funções litúrgicas é motivada pelo desejo de proteger a população do contágio. Hoje, se alguém fosse legalmente punido por desobedecer à proibição, certamente não seria um “mártir”. Mesmo há cem anos, por causa da gripe espanhola, foram emitidas proibições semelhantes e a Igreja as aceitou.

Agora, tentar a Deus e presumir de “heróis”, e, portanto, terminar sendo confinados pela autoridade pública, colocados em estrita quarentena por desrespeito a estas normas, ou pior, ter sacerdotes gravemente doentes ou até mesmo mortos, certamente não contribuirá para alcançar estes objetivos. 

        Ademais, devemos considerar que há muitas pessoas que têm pouco ou nenhum acesso à Santa Missa e aos sacramentos (p.e. os fiéis de nossos centros de Missa e missões, que esperam um, dois e até três meses a visita dos Padres). Aqueles que estão acostumados a receber os auxílios da Igreja frequentemente devem entender que são privilegiados. Deus lhes dá este dom puramente gratuito. É necessário aprender a ser gratos por isso. Que esta privação temporária seja a ocasião. Quando tudo voltar ao normal, nos beneficiaremos ainda mais dos tesouros espirituais da Igreja. Estejam certos: os Padres não nos esquecemos dos senhores!

A Providência quis que o nosso Superior, o Padre Juan María de Montagut, ficasse confinado longe daqui, no Instituto Nossa Senhora do Rosário em Anápolis – GO, onde administra os sacramentos a 35 freiras e às suas muitas alunas, órfãs e internas. De lá ele enviou estas diretivas aos Padres:

– Missa dominical: até o fim da pandemia seja oferecida uma Santa Missa com a intenção pro populo;

– 23 de março: Missa votiva “Pro vitanda mortalitate” com a intenção pro populo.

– Nas Missas quotidianas até o sábado, 4 de abril, sejam acrescentadas as orações da Missa “Pro vitanda mortalitate”.

No Terço sejam acrescentadas as orações do Ritual Romano tiradas da procissão “pro Tempore mortalitatis et pestis”.

Em família, podemos rezar a Ladainhas de Todos os Santos.

Não sabemos se seremos capazes de divulgar a Missa online. No entanto, até lá, os Srs. já poderão assistir às Missas do Padre Samuel Bon em Portugal e Dom Lourenço em Niterói.

Muito obrigado pela sua compreensão.

Tenham um santo domingo! 

Com a minha bênção e em união de orações,

Padre Jean-François Mouroux, FSSPX
Prior