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Dom Fellay terminou sua conversa com algumas revelações pouco conhecidas sobre como Roma realmente considera a Fraternidade São Pio X. Em assuntos importantes, Roma não trata a FSSPX como se ela fosse um grupo cismático, mas como sendo inteiramente católica.

(Foto da Missa Pontifical em St. Vincent, EUA, domingo, 17 outubro).

“Há uma prática em Roma pela qual eles lidam com a Fraternidade São Pio X como sendo total e completamente católica”, e não cismática. A prática se refere ao reconhecimento do Vaticano dos padres da FSSPX, e o reconhecimento da validade das confissões da FSSPX.

Essa foi parte da mensagem dada por Dom Bernard Fellay, Superior Geral da Fraternidade São Pio X, durante o recente Fórum da FSSPX.

A Fraternidade São Pio X realizou a sua conferência do 40º aniversário de 15 a 17 outubro em Kansas City. Foi a primeira conferência nacional da FSSPX realizada nos Estados Unidos, e cerca de 700 pessoas compareceram.

Nove palestrantes participaram da conferência. A apresentação de abertura foi de Dom Fellay, na tarde de sábado. Intitulada “Quarenta Anos de Fidelidade”, a conferência do bispo discutiu os princípios da crise atual e a solução proposta pelo Arcebispo Dom Lefebvre.

Dom Fellay finalizou com algumas revelações pouco conhecidas sobre como Roma realmente considera a Fraternidade São Pio X. Em assuntos importantes, Roma não age em relação à FSSPX como se ela fosse um grupo cismático, mas como sendo inteiramente católica.

Jornada Espiritual

Dom Fellay começou citando A Vida Espiritual (editado no Brasil pela Editora Permanência), o último livro escrito por Dom Lefebvre, que ele apresentou como seu testemunho aos seus sacerdotes em 1990. Este livro foi tão importante para o arcebispo, que após a sua conclusão, ele disse: “Agora terminei o meu trabalho. Deus pode me chamar.”

Se você quer saber como era a alma do arcebispo, disse Dom Fellay, leia e medite esse livro.

Dom Fellay baseou sua apresentação em duas afirmações fundamentais do Arcebispo Dom Lefebvre, retiradas do início de A Vida Espiritual:

1) “O mal do Concílio reside na ignorância de Jesus Cristo e de Sua Realeza. É o mal dos anjos decaídos. É o caminho para o inferno. “

2) “Devido à realeza de Cristo não estar mais no centro das preocupações e das atividades de nossos prelados, eles perderam a noção de Deus e do sacerdócio católico. E por isso, não podemos segui-los.”

Essas declarações são fortes e profundas.

Quando olhamos para o Concílio, diz Dom Fellay, sabemos que há algo de errado. Pode ser difícil de descrever, mas há algo fora de sintonia. Erros flagrantes são raros no Concílio. Encontramos verdadeiras expressões de fé, seguidas de expressões que são quase opostas.

Em face desse problema com as contradições e ambiguidades nos textos do Concílio, Dom Fellay explica que os textos devem ser lidos com a fé católica, ou seja, com um “filtro” católico. Assim, “o que é bom, nós aceitamos. O que é ambíguo deve ser interpretado de uma forma Católica. O que não passa pelo filtro, nós rejeitamos”.

Embora Dom Fellay não tenha mencionado, ele estava reafirmando a abordagem do Concílio enunciada pelo arcebispo Dom Lefebvre quase 20 anos atrás.

Em suas negociações com o cardeal Ratzinger em 1982 e 1985, Dom Lefebvre insistiu que o único caminho de o Concílio Vaticano II ser aceito à luz da Tradição seria que os textos ambíguos do Vaticano II fossem interpretados estritamente de acordo com o Magistério perene, e que os textos do Concílio incompatíveis com a tradição fossem revistos.

Dom Fellay passou a examinar detalhadamente a declaração do arcebispo em A Vida Espiritual que diz que “o mal do Concílio reside na ignorância de Jesus Cristo e de Sua Realeza…”

Aqui, o arcebispo chega à raiz da crise. É um problema que afeta a própria compreensão de Deus e de Jesus Cristo. Estamos lidando especificamente com o princípio da própria fé – Deus.

Aqueles que foram infectados com o espírito do Concílio têm um problema com a sua compreensão de Deus. Deus não é colocado em seu devido lugar. Ele é encarado como um bom avô, tão bom, na verdade, que todos irão para o céu, não importa o que façam.

E como esses clérigos têm um entendimento errado de Deus, eles acabam tendo um entendimento errado do pecado. O pecado é reconhecido como algo que fere o nosso vizinho, mas os pecados contra Deus, que compreendem os três primeiros mandamentos do Decálogo, não são mais uma preocupação. “E se há tantos pecados no mundo de hoje, é porque eles se esqueceram de Deus. Esquecem-se do castigo do pecado”, que, em última análise, é o inferno.

Essa compreensão errônea de Deus se manifesta na forma como prelados, sacerdotes e o povo católico lidam com Ele. Usando a linguagem mais elevada possível, Dom Fellay citou bispos – e conferências nacionais de bispos – que abordam o problema da AIDS dizendo que é melhor para um homem usar um dispositivo imoral contraceptivo para se proteger, em vez de contrair esta doença que pode matá-lo. A vida humana é colocada como mais importante do que ofender a Deus pelo pecado mortal. Essa perversão vem da “ignorância de Jesus Cristo” mencionada pelo arcebispo Dom Lefebvre.

Devido a essa ignorância, os clérigos perderam a compreensão da realeza de Nosso Senhor e Sua soberania sobre as nações. Por exemplo, quando confrontados com a sociedade pluralista de hoje, eles consideram melhor para o Estado não reconhecer a Igreja Católica como a única religião verdadeira. Mas “quando você diz que o Estado deve respeitar todas as religiões, você pede a Nosso Senhor para se afastar.”

Dom Fellay citou o segundo encontro pan-religioso do Papa João Paulo II em Assis como prova deste rebaixamento de Nosso Senhor. O acordo no segundo encontro de Assis era o de dar a várias religiões do mundo o seu próprio recinto no convento de Assis para realizarem seus rituais de oração. Os católicos perguntaram aos membros dessas religiões do que eles precisariam.

Os zoroastristas disseram que o seu ritual requeria fogo, então eles precisam de uma janela.

Os muçulmanos disseram que precisariam de uma sala voltada para Meca.

Os judeus disseram: “Nós precisamos de um quarto que nunca tenha sido abençoado.” Todas as bênçãos são feitas em nome de Jesus Cristo, e os judeus não O aceitam. (Onde eles encontraram tal sala em um convento católico é difícil imaginar.)

Outro ponto preocupante para a reunião de oração pan-religiosa em Assis, “todos os crucifixos tinham desaparecido”. Dom Fellay nota, “a fim de construir a unidade com todas as religiões, você não precisa de muito. Mas você precisa remover algo – o crucifixo.”

Dom Fellay também observou que o termo técnico católico “falsa religião”, empregado ao longo dos séculos, não foi mais usado desde o Papa Pio XII. “Passe pelos textos oficiais escritos após o Concílio e tente encontrar o termo “falsa religião”. São ou não falsas? E se elas são falsas, porque não dizê-lo?”

O documento do Vaticano Dominus Iesus do ano 2000 pode até dizer que a religião católica é a única que contém “toda a verdade”, mas não fala que as religiões não-católicas são falsas.

Assim, os erros do Ecumenismo e da Liberdade Religiosa fervem no mesmo problema. Deus não é colocado em seu devido lugar. Jesus Cristo não é colocado em seu devido lugar. “O mal do Concílio reside na ignorância de Jesus Cristo e de Sua Realeza…” Eles já não sabem quem é Jesus Cristo.

Preocupações Erradas

Essa ignorância de Jesus Cristo conduz diretamente à segunda observação do arcebispo Dom Lefebvre: “Devido à realeza de Cristo não estar mais no centro das preocupações e das atividades de nossos prelados, eles perderam a noção de Deus e do sacerdócio católico. E por isso, não podemos segui-los”.

Aqui vamos passar para outro nível, do aspecto especulativo da crença para o componento ativo – a representação dessa ignorância de Jesus Cristo. Um dos principais meios com que isso é agora manifestado entre os prelados da Igreja moderna é que a realeza de Jesus Cristo não é mais o centro de suas preocupações e atividades.

As preocupações e atividades desses clérigos se tornam mais mundanas e centradas no homem, como evidenciado pelo cardeal de Nápoles, que disse que os três grandes problemas da sua diocese tinham a ver com o lixo, o tráfego e um dilema semelhante. Nenhuma menção é feita ao pecado ou à educação cristã.

Devido a essa ignorância de Jesus Cristo, e porque a realeza de Cristo não é mais o centro de suas preocupações e suas atividades, “eles perdem o senso de Deus”, e isso se manifesta na Missa Nova.

É por isso que nos sentimos bem e alimentados quando assistimos à verdadeira Missa, mas nos sentimos mal quando vamos à Missa nova. A Missa Nova não se “encaixa” no catolicismo. Ela não expressa a nossa fé.

Para comprová-lo, Dom Fellay falou de seu encontro com o Papa Bento XVI em agosto de 2005.

Quando o papa perguntou a Dom Fellay o que ele pensava da Igreja, ele respondeu: “Santo Padre, a situação da Igreja é tal que a vida Católica normal tem sido impossível… A cada dia, sacerdotes, religiosos, irmãs, irmãos, fiéis, vêm até nós. Eles preferem sofrer sanções e punições a ficar em uma situação em que eles são obrigados a agir contra sua consciência. “

Em outras palavras, esses fiéis católicos preferem suportar o estigma de serem considerados párias, com todo o sofrimento e incompreensão que vêm daí, a assistir à Missa Nova e a expor-se ao espírito do Concílio que hoje é a norma na vida da paróquia diocesana.

Isso ocorreu em 2005, e a situação é a mesma até hoje.

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Devido à realeza de Cristo não estar mais no centro das preocupações e das atividades de nossos prelados, eles perderam a noção de Deus e do sacerdócio católico…” Dom Lefebvre em A Vida Espiritual.

Solução

Então, qual é a resposta?

Dom Fellay expôs longamente as palavras de Dom Lefebvre tiradas de A Vida Espiritual. No livro o arcebispo diz que, em face da “degradação progressiva do ideal sacerdotal”, o seu objetivo não era apenas fazer o sacerdócio de Nosso Senhor Jesus Cristo renascer em toda sua pureza da fé católica, nem apenas ensinar a pura doutrina aprovada pela Igreja, “mas também transmitir o espírito profundo e imutável do sacerdócio católico e do espírito cristão, essencialmente, ligados à grande oração de Nosso Senhor [a Missa] que seu sacrifício na Cruz exprime eternamente.”

Dom Lefebvre e a Fraternidade São Pio X foram fiéis na preservação do autêntico sacerdócio e da pureza da fé contra os erros modernos. Mas o arcebispo Dom Lefebvre observa que isso não é suficiente. Algo mais é necessário. E esse “algo mais” é o “espírito do sacerdócio católico… o espírito cristão”, vinculado à Grande Oração de Nosso Senhor.

As virtudes têm de ser formadas pela caridade, formadas pelo “espírito” da verdadeira fé. A única maneira de encontrar esse espírito é ao pé da cruz, por meio da oração e da contemplação.

Nesse chamado à santidade, Dom Fellay recomenda a obra clássica de Dom Jean-Baptiste Chautard, A Alma de todo Apostolado como guia para ajudar a alcançar um espírito de oração e contemplação. Devemos tomar cuidado com agir muito e esquecer a oração. A ação que está profundamente enraizada na oração, contemplação e santidade “é a única maneira que Deus usa para trazer o bem para a Igreja”.

Ele observou que toda vez que Deus acaba com uma crise na Igreja, “Ele o faz enviando santos.” E desta vez não será diferente. “A crise é profunda, e se existe um remédio, deve ser poderoso.”

Dom Fellay falou longamente sobre a necessidade dessa santidade e contemplação. Neste momento da apresentação, sentia-se como que se estivesse em um retiro em vez de em uma conferência. Foram excelentes considerações espirituais que todos precisam ouvir.

Roma e a FSSPX: Últimas Revelações

Para encurtar o texto, vamos passar para a parte final da palestra que tratou da posição atual de Roma em relação à Fraternidade.

Dom Fellay observa que há uma contradição constante. Vemos que os Papas conciliares reconheceram uma crise de fé. Paulo VI falou da “fumaça de satanás” na Igreja e João Paulo II lamentou a difusão da heresia. Ao mesmo tempo, esses mesmo Papas pioraram a crise, promovendo o programa do Concílio.

Essa contradição também é vista na maneira com que Roma lida com a FSSPX. Dom Fellay disse: “Vemos documentos e declarações como “a Fraternidade não existe” ou “seus sacramentos são inválidos.” Ao mesmo tempo, existe uma prática em Roma de lidar com a Fraternidade São Pio X como sendo completamente Católica”.

Podemos considerar, por exemplo, a maneira com que Roma trata os sacerdotes que abandonam a FSSPX e procuram “regularização”.

Há um princípio de ação na Igreja Católica que diz que se um católico recebe a ordenação fora da Igreja de um grupo cismático (os ortodoxos, etc), ele pode voltar para a Igreja, mas nunca poderá exercer o poder sacramental que roubou de fora da Igreja. É um princípio geral aplicado até hoje.

Mas essa não é a prática em relação a padres da FSSPX, supostamente cismáticos, que procuram “regularização” de Roma. Eles são reconhecidos e autorizados a atuar como sacerdotes.

“Se nós realmente fossemos cismáticos”, diz Dom Fellay, “então Roma teria que proibir o exercício do sacerdócio. O próprio fato de Roma permitir a plena atuação desses sacerdotes significa que não somos cismáticos, e que não somos vistos como cismáticos. Essa tem sido continuamente a política de Roma”.

Esse foi o mesmo caso ocorrido com um padre ordenado por Dom Licínio Rangel [de Campos], que havia sido consagrado por Dom Tissier, Dom Williamson e Dom de Galareta. Na época, a Congregação para a Doutrina da Fé insistiu em que o padre fosse tratado da mesma forma que os padres da FSSPX, e que lhes fosse permitido o exercício do sacerdócio. “Mais uma vez”, diz Dom Fellay, “nenhum cisma”.

O bispo falou então sobre os casos dolorosos referentes a pecados tão graves que são penalizados com a excomunhão, cujo perdão é reservado apenas ao Papa.

Padres da FSSPX que se deparam com casos como esses no confessionário absolvem o penitente do pecado e da excomunhão. De acordo com as normas da Igreja, o padre deve então enviar o caso a Roma para ser examinado e a excomunhão ser formalmente levantada. Dom Fellay disse que “todas as vezes – absolutamente todas as vezes – recebemos resposta de Roma dizendo que os padres confessores agiram bem, que as confissões estavam perfeitamente de acordo, sendo lícitas e válidas.” Roma, então, avalia a penitência, se foi suficiente ou não.

Em outras palavras, Roma não considera a confissão inválida. Roma aceita a validade das confissões da FSSPX.

Dom Fellay pergunta: “Então por que é que dizem que nossas confissões são inválidas se este é o modo como Roma age no caso dessas questões tão graves?”

“Vocês percebem a contradição?”, diz ele, “e nós vemos esse tipo de contradição o tempo todo.”

Outro exemplo: durante a grande tempestade que eclodiu em janeiro de 2009, depois de as “excomunhões” serem “levantadas”, o Secretário de Estado do Vaticano publicou um decreto declarando que a Fraternidade São Pio X não existe, que não é católica, e que a FSSPX deve absolutamente reconhecer o Concílio Vaticano II e todos os ensinamentos dos papas desde o Concílio.

Mais tarde nesse mesmo ano, duas semanas antes da Páscoa, Dom Fellay recebeu uma intervenção de Roma. Os bispos alemães estavam colocando pressão sobre o Vaticano, ameaçando excomungar a FSSPX se realizasse ordenações em seu seminário alemão. Para atender a uma solicitação do Papa, Dom Fellay mudou as ordenações da Alemanha para Ecône.

Enquanto o Vaticano estava tentando impedir as ordenações, um cardeal disse a Dom Fellay: “Basta pedir ao Papa permissão e eu posso garantir que você receberá sua permissão, e até à Páscoa, a Fraternidade São Pio X, ficará reconhecida.”

Dom Fellay respondeu: “Mas espere um minuto! E sobre aquele decreto do Secretário de Estado” que alega que a FSSPX não faz parte da Igreja e que ela deve aceitar o Concílio?

O Cardeal respondeu: “É só um texto político. Não foi nem sequer assinado pelo Secretário de Estado, e não é o que o Papa pensa”.

Este é o tipo de contradição que a FSSPX constantemente encontra em Roma.

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Dom Fellay logo após a palestra da tarde de sábado

Lex Orandi

Esta contradição também aparece em relação à antiga Missa Latina.

Em 2007, o papa Bento XVI reabilitou a Missa Tridentina. Foi um passo importante, embora os bispos continuem a bloquear a aplicação do Motu Proprio. Dom Fellay citou um bispo na Itália, que disse: “O dia em que o Papa celebrar publicamente a Missa Tridentina, eu deixarei a Igreja.” Esse bispo, certamente, não está sozinho em sua hostilidade em relação à antiga liturgia latina.

Dom Fellay notou que o Papa não gosta da missa nova. Como cardeal Ratzinger, ele afirmou que ela é uma “banal fabricação”. Ele prefere a missa antiga, e diz-se que ele a celebra de tempos em tempos. No entanto, devido à pressão dos bispos, ele se permite ser intimidado a não celebrá-la publicamente.

A oposição é tão feroz que mesmo prelados que rezam o Novus Ordo, mas são moderadamente conservadores, são denunciados como “ultraconservadores”.

Na mesma linha, em 2007, o Vaticano disse que “pro multis”, nas palavras da consagração deve ser traduzido como “por muitos”, pois há uma imprecisão em “por todos”. Os bispos alemães declararam recentemente que, apesar da ordem do Vaticano, pretendem manter “por todos”, porque, e isso é incompreensível, eles dizem que “é a tradição, e temos que manter a tradição”.

Quando temos de tratar com Roma, também é necessário “ler nas entrelinhas”. No decreto do Papa Bento XVI que “levanta” as “excomunhões”, lemos: “Todos os efeitos do decreto anterior são retirados.” Estritamente falando, isso significa que as excomunhões foram “levantadas” em todos os seis bispos, incluindo o Arcebispo Dom Lefebvre e o Bispo Dom de Castro Mayer, e não apenas os quatro bispos da FSSPX nomeados no documento.

Referindo-se ao fato de o Papa Bento XVI ser um homem de gestos tanto conservadores como liberais, Dom Fellay disse, “Ratzinger é uma mistura”. O Papa Bento XVI é atacado pelos liberais, porque ele quer reverter algumas das tendências modernas da Igreja. Ao mesmo tempo, ele “é totalmente a favor do ecumenismo e da liberdade religiosa”.

Dom Fellay disse, “Orem para que o bom lado do Papa triunfe, nele mesmo, na Igreja e no Vaticano.”

No encerramento, Dom Fellay voltou ao chamado de Dom Lefebvre à fidelidade e à santidade, observando que “o nosso trabalho não é para nós mesmos, mas para a Igreja.”

As últimas palavras do bispo foram de encorajamento em face da oposição: “Nosso Senhor prometeu uma bênção especial para aqueles que sofrem em Seu Nome. Tenho certeza de que estamos nessa posição.”

John Vennari

Retirado e traduzido de cfnews.org


Dom Lefebvre e a Fraternidade de São Pio X foram fiéis na preservação do autêntico sacerdócio e da pureza da fé contra os erros modernos.Mas o arcebispo Dom Lefebvre observa que isso não é suficiente.Algo mais é necessário.E esse “algo mais” é o “espírito do sacerdócio católico… o espírito cristão”, vinculado à Grande Oração de Nosso Senhor.

As virtudes têm de ser formadas pela caridade, formadas pelo “espírito” da verdadeira fé.Há única maneira de encontrar esse espírito é ao pé da cruz, por meio da oração e da contemplação.

Nesse chamado à santidade, Dom Fellay recomenda a obra clássica de Dom Jean-Baptiste Chautard, A Alma de todo Apostolado como guia para ajudar a alcançar um espírito de oração e contemplação.Devemos tomar cuidado com agir muito e esquecer a oração. A ação que está profundamente enraizada na oração, contemplação e santidade “é a única maneira que Deus usa para trazer o bem para a Igreja”.

Ele observou que toda vez que Deus acaba com uma crise na Igreja, “Ele o faz enviando santos.” E desta vez não será diferente.“A crise é profunda, e se existe um remédio, deve ser poderoso.”

Dom Fellay falou longamente sobre a necessidade dessa santidade e contemplação.Neste momento da apresentação, sentia-se como se estivesse em um retiro em vez de em uma conferência. Foram excelentes considerações espirituais que todos precisam ouvir.

 

Rome e a FSSPX: Últimas Revelações

Para encurtar o texto, vamos passar para a parte final da palestra que tratou da posição atual de Roma em relação à Fraternidade.

Dom Fellay observa que há uma contradição constante.Vemos que os Papas conciliares reconheceram uma crise de fé.Paulo VI falou da “fumaça de satanás” na Igreja e João Paulo II lamentou a difusão da heresia.Ao mesmo tempo, esses mesmo Papas pioraram a crise, promovendo o programa do Concílio.

Essa contradição também vem é vista na maneira com que Roma lida com a FSSPX.Dom Fellay disse: “Vemos documentos e declarações como “a Fraternidade não existe” ou “seus sacramentos são inválidos.” Ao mesmo tempo, existe uma prática em Roma de lidar com a Fraternidade de São Pio X como sendo completamente Católica”.

Podemos considerar, por exemplo, a maneira com que Roma trata os sacerdotes que abandonam a FSSPX e procuram “regularização”.

Há um princípio de ação na Igreja Católica que diz que se um católico recebe a ordenação fora da Igreja de um grupo cismático (os ortodoxos, etc), ele pode voltar para a Igreja, mas nunca poderá exercer o poder sacramental que roubou de fora da Igreja.É um princípio geral aplicado até hoje.

Mas essa não é a prática em relação a padres da FSSPX, supostamente são cismático, que procuram “regularização” de Roma.Eles são reconhecidos e autorizados a atuar como sacerdotes.

“Se nós realmente fossemos cismáticos”, diz Dom Fellay, “então Roma teria que proibir o exercício do sacerdócio.O próprio fato de Roma permitir a plena atuação desses sacerdotes significa que não somos cismáticos, e que não somos vistos como cismáticos.Essa tem sido continuamente a política de Roma”.

Esse foi o mesmo caso ocorrido com um padre ordenado por Dom Licínio Rangel [de Campos], que havia sido consagrado por Dom Tissier, Dom Williamson e Dom de Galareta. Na época, a Congregação para a Doutrina da Fé insistiu em que o padre fosse tratado da mesma forma que os padres da FSSPX, e que lhes fosse permitido o exercício do sacerdócio.“Mais uma vez”, diz Dom Fellay, “nenhum cisma”.

O bispo falou então sobre os casos dolorosos referentes a pecados tão graves que são penalizados com a excomunhão, cujo perdão é reservado apenas ao Papa.

Padres da FSSPX que se deparam com casos como esses no confessionário absolvem o penitente do pecado e da excomunhão.De acordo com as normas da Igreja, o padre deve então enviar o caso a Roma para ser examinado e a excomunhão ser formalmente levantada. Dom Fellay disse que “todas as vezes – absolutamente todas as vezes – recebemos resposta de Roma dizendo que os padres confessores agiram bem, que as confissões estavam perfeitamente de acordo, sendo lícitas e válidas.” Roma, então, avalia a penitência, se foi suficiente ou não.

Em outras palavras, Roma não considera a confissão inválida.Roma aceita a validade das confissões da FSSPX.

Dom Fellay pergunta: “Então porque é que dizem que nossas confissões são inválidas se este é o modo como Roma age no caso dessas questões tão graves?”

“Vocês percebem a contradição?”, diz ele, “e nós vemos esse tipo de contradição o tempo todo.”

Outro exemplo: durante a grande tempestade que eclodiu em janeiro de 2009, depois de as “excomunhões” serem “levantadas”, o Secretário de Estado do Vaticano publicou um decreto declarando que a Fraternidade de São Pio X não existe, que não é católica, e que a FSSPX deve absolutamente reconhecer o Concílio Vaticano II e todos os ensinamentos dos papas desde o Concílio.

Mais tarde nesse ano, duas semanas antes da Páscoa, Dom Fellay recebeu uma intervenção de Roma.Os bispos alemães estavam colocando pressão sobre o Vaticano, ameaçando excomungar a FSSPX se realizasse ordenações em seu seminário alemão. Para atender a uma solicitação do Papa, Dom Fellay mudou as ordenações da Alemanha para Êcone.

Enquanto o Vaticano estava tentando impedir as ordenações, um cardeal disse a Dom Fellay: “Basta pedir ao Papa permissão e eu posso garantir que você receberá sua permissão, e até à Páscoa, a Fraternidade de São Pio X, ficará reconhecida.”

Dom Fellay respondeu: “Mas espere um minuto!E sobre aquele decreto do Secretário de Estado” que alega que a FSSPX não faz parte da Igreja e que ela deve aceitar o Concílio?

O Cardeal respondeu: “É só um texto político.Não foi nem sequer assinado pelo Secretário de Estado, e não é o que o Papa pensa”.

Este é o tipo de contradição que a FSSPX constantemente encontra em Roma.