pelos Padres do Priorado Padre Anchieta

A posição do IBP apresentada pelos padres Carusi e Raffray pretende que o suposto fracasso das conversas teológicas com a FSSPX irá desacreditar a Comissão Ecclesia Dei e reduzir a sua importância. A consequência disso será o desamparo das Fraternidades “Ecclesia Dei” contra os bispos.

A fragilidade da posição do IBP

Estes padres do IBP curiosamente revelam como a posição dos institutos “Ecclesia Dei”  é frágil e dependente a final da atuação da FSSPX. Esta verdade devia já ser sublinhada desde o início, porque a própria existência da “Ecclesia Dei” e das suas filhas é devida a uma estratégia romana contra a FSSPX: oferecer promessas e alternativas aos fiéis e padres para eles abandonarem a FSSPX e assim fazer evitar a Roma todo um procedimento de julgamento da FSSPX.

IBP culpa FSSPX

O alegado desalento devido ao suposto fracasso das conversações teológicas e o rumor em Roma de que “a Fraternidade é cismática e está fora da Igreja” deram então ocasião a estes dois padres do IBP de falar sobre a FSSPX e culpá-la de todas as dificuldades encontradas pelos tradicionalistas acordistas.

O nível da solução do IBP corresponde ao nível do diagnóstico: superficial

A única saída honrosa para a Fraternidade, segundo eles, seria aceitar uma situação canônica de Ordinariato Pessoal independente dos bispos e não continuar a exigir que Roma volte para a Tradição. Esta maneira de falar e julgar revela um nível de entendimento superficial da crise. A crise seria apenas por questões litúrgicas e canônicas.

Além disso, o fato de conceder uma solução canônica à FSSPX da parte das autoridades é apenas justiça: um homem inocentado pela autoridade pode legitimamente pretender aos direitos civis. Seria uma saída honrosa para as autoridades que assim reparem uma injustiça cometida contra a FSSPX.

Eles estão enganados quando pensam que a FSSPX teria recusado a possibilidade de ter uma legalidade para discutir livremente sobre algumas dificuldades da teologia moderna, porque esta possibilidade existe apenas agora, graças ao trabalho “ilegal” da FSSPX e demais grupos tradicionais. Pouco tempo antes das conversas, quando o Vaticano II estava em jogo ou quando a autoridade estava envolvida na teologia moderna, não havia liberdade para discutir. É precisamente esta conquista da liberdade de discutir o Vaticano II que a FSSPX almeja.

A real finalidade das conversas teológicas

A FSSPX nunca esperou muito das conversações teológicas, senão simplesmente uma ocasião de se apresentar às autoridades segundo um modo mais autêntico e aceitou o que o Papa achou mais necessário. “Mas dos dois lados se comemora realmente o fato de que as discussões foram muito francas e que permitiram, de fato, alcançar o objetivo, no fim das contas modesto, que lhes era designado: determinar precisamente quais eram os pontos controversos e conhecer qual era a doutrina da FSSPX sobre esses pontos” (cf. Sumorum Pontificum Observatus).

A situação das conversas teológicas analisada à luz duma suposta tentativa de acordo evidentemente não vai encontrar resultado, porque não corresponde à finalidade. Eles recusam a possibilidade de que haja uma purificação do Vaticano II e se escandalizam com exigência sine qua non de expurgar o Concílio de alguns textos. Basta, segundo eles, exprimir reserva teológica e deixar ao Magistério o cuidado de decidir. Por eles, então, não há problema de fundo, não há motivo para reclamar da autoridade. Então, por que resistir contra a autoridade para manter a Tradição? Este combate de Dom Lefebvre, de que eles são beneficiários, teria sido então ilegítimo, e, por consequência, as concessões feitas por Roma aos que saíram da FSSPX também foram abusos, nesse modo de ver as coisas.

IBP amargo porque deixado fora das conversas teológicas: queixas, más interpretações e falsificações

Queixam-se: Dois anos de conversas e nada de resultado; mil declarações e não se sabe se Dom Fellay aceita o Vaticano II, e Roma permanece silenciosa. Esta maneira de ver é demasiado falsa: o trabalho de esclarecimento teológico da posição da FSSPX foi realizado a portas fechadas, mas isso não quer dizer que não foi nada. Será que o que está fora da visão destes dois padres não existe? A honestidade obriga a abrir os olhos sobre os efeitos alcançados: doravante a liberdade de falar sobre o Concílio começa a existir. Os livros de Gherardini (“A não-infalibilidade do Concílio”) e de Roberto Matei (“A História de Vaticano II”), bem como o Congresso anunciado sobre este tema organizado pelos Fransciscanos da Imaculada demonstram os bons frutos destas conversas. Já não valem as afirmações declamatórias em favor do Vaticano II, a “hermenêutica da continuidade” deve ser comprovada. Até que enfim, a “palavra é livre” sobre o Vaticano II.

Outra queixa injusta: o conteúdo da carta dirigida às autoridades não foi publicada na íntegra. Uma carta dirigida às autoridades não devia despertar um espírito de suspeita e de desejo de controlar, mas de confiança, especialmente da parte dos acordistas. O que foi revelado ao público é suficiente para deixar entender do que se tratava, e não se precisa sempre suspeitar que há coisas secretas para enganar.

Os dois padres interpretam o trabalho de dois anos de conversa teológica como um negócio entre a FSSPX e Roma: negociar uma maneira de aceitar o Vaticano II para obter uma situação canônica. Fazem parecer que ainda não se sabe se Dom Fellay aceitou o Concílio, quando é fato que não se trata de saber se a FSSPX vai aceitar o Concílio, mas sim de saber se a posição da FSSPX sobre a Tradição e o Magistério, apesar de recusar o Vaticano II, é ou não católica. A afirmação “aceitar todos os Concílios até ao Vaticano II” foi já explicada. A FSSPX aceita o fato material do Concílio, mas não a sua própria autoridade doutrinal ou moral. É evidente que um Concílio pastoral não se pode tornar magicamente doutrinal ou a norma de comunhão com a autoridade, sobretudo quando tem pontos que contradizem o que foi ensinado pela Tradição (Bento XVI, em 22 de Dezembro de 2005). A FSSPX sempre disse e diz que o último Concílio doutrinal foi o Vaticano I. Então, a posição de aceitar como norma de fé todos os Concílios até o Vaticano II exclusivamente ou até o Vaticano I inclusivamente é o que está em causa. Isso é tão evidente que é a razão das conversas. O Vaticano II é contestado não na sua integralidade, mas nas partes que contradizem a Tradição ou a relativiza com as ambiguidades; não se trata de negócio entre não conservar a integridade da Tradição e, em troca, receber vantagens canônicas.

Pretendem estes dois padres que foi a Fraternidade que pediu as conversas teológicas, quando se sabe que a FSSPX apenas reivindicou a possibilidade de responder às injustas acusações de faltar com as noções da Tradição e do Magistério, e que foi o Papa mesmo quem estimou necessárias estas conversas teológicas.

IBP tentando se justificar reduz a Tradição a uma opção e a algo negociável

Pensam que a política dos compromissos que enganaram a Fraternidade São Pedro e demais institutos “Ecclesia Dei” era aceitável, quando se vê como os inimigos conseguiram por esta via diplomática reduzir a Tradição a uma opção. Não se apercebem que esta concessão abusiva de privilégio particular do rito extraordinário não é sustentável, quando a defesa da tradição apenas se fundamenta sobre uma sensibilidade, um carisma particular. No caso dos institutos acordistas, a única coisa que falta é tomar consciência que são arrastados numa corrente de obediência falsa e aceitação da nova missa protestantizante e dos erros do Concílio.

Os referidos padres reduzem o combate da tradição à liberdade da missa tradicional e acham exagerada a pretensão da FSSPX de lutar para incentivar a autoridade a conservar integralmente a Tradição dos Apóstolos e falar de conversão, no sentido de regresso ao seu dever de estado de nos fortalecer na Tradição apostólica. Ainda falam de política em prol de um acordo, quando não se pode fazer acordo com uma coisa que não nos pertence – a Tradição litúrgica e doutrinal que a FSSPX defende pertence à Igreja, e é inegociável. Mesmo um anjo ou um Apóstolo não podem negociá-la.

Comparam as conversas teológicas com os colóquios da Idade Média entre escotistas e tomistas, como se se tratasse de opiniões livres. O combate da tradição seria apenas uma luta para defender um ponto de vista pessoal, uma opinião, quando é a Tradição e a sua noção que está em jogo. Esta superficialidade retira todo motivo legítimo de continuar o combate da Tradição e de reclamar das autoridades. Para eles, a Tradição seria comparável a uma opinião teológica que não pode ser motivo de resistência às autoridades. Apenas consideram que basta um pouco de diplomacia para a solução. Arruínam, assim, a possibilidade de reclamar da autoridade e estão portanto dispostos a aceitar os erros do Vaticano II por obediência.

IBP deprecia a atitude de Roma pois não concorda com ela

Fazem parecer que Roma entra na conversa teológica mais com diplomacia do que com intenção científica, e se lamentam do fato que a problemática do rito e da tradição em geral se focou sobre o caso da FSSPX, ao invés de consistir em uma ajuda concreta para apoiar os que foram reconhecidos (os acordistas), e convidar a FSSPX a entrar na linha do “acordismo”. Eles não percebem que o que chama à atenção de Roma é uma questão de doutrina, e portanto é bem mais importante do que uma questão de acordo prático. Lamentam-se depois que por causa da dedicação de Roma nestas conversas teológicas (descritas com desdém, como uma tentativa de Roma de solucionar a sua desavença com um grupinho de cismáticos turbulentos), os Institutos Ecclesia Dei estão desamparados.

IBP manifesta a sua incompreensão da situação

Por consequência disto, dizem eles,  a comissão “Ecclesia Dei” será reduzida a um organismo a serviço da Congregação para a Doutrina da Fé, completamente absorvida em favorecer o sucesso dos membros extremistas da FSSPX. Eles ainda não percebem que a Congregação para a Doutrina da Fé é mais importante do que uma Comissão disciplinar. A visão distorcida deles considera que a causa da Tradição seria uma entrega aos caprichos da ala dura da FSSPX. Dom Fellay seria mestre da situação. A preocupação doutrinal da FSSPX, que não entra no esquema deles, é vista como um exagero.

A FSSPX é considerada por eles como mercenária, que de maneira irresponsável pratica sabotagem e se retira com covardia para deixar os civis sofrerem as consequências das represálias. Esta vitimização dos “Institutos Ecclesia Dei” apenas serve para tentar comover e recuperar o que eles, com as negociações, perderam. Eles constatam que Roma está mais indiferente para com os acordistas. Já não é a hora de distribuir “garantias canônicas aos institutos Ecclesia Dei”.

Com que facilidade eles aceitam as críticas de alguns romanos contra os teólogos da FSSPX! Partilham curiosamente das críticas, que manifestamente vêm de teólogos progressistas, haja vista o nível da crítica – “formação neo-tomista que os fossilizou nos anos 1930”. A FSSPX, segundo eles, apenas seria capaz de lançar suspeitas sobre os perfeitos teólogos de Roma.

IBP culpa a FSSPX da sua situação difícil e propõe uma solução-milagre

Os dois padres agora querem culpar a FSSPX de praticar um zelo inoportuno, afirmando que travou um combate impossível e idealista que provocou a impossibilidade de permanecer Romano e ao mesmo tempo fiel à FSSPX. Incrivelmente, eles invocam como prova da vaidade do combate da FSSPX  o fato de que Roma persiste na sua linha, cumulando o caso do preservativo, da beatificação de JPII e de Assis III.

Agora, lamentam-se de se encontrar num buraco por causa de uma FSSPX que não soube se contentar com uma solução pragmática, tentando uma coisa impossível, excessiva e orgulhosamente imprudente.

Nesse modo de ver, a solução-milagre seria a solução canônica, enquanto que o resto (a questão doutrinal) seria exagero e pretensão orgulhosa.

Se a FSSPX resolve aceitar a posição acordista, então o seu combate de ontem seria ‘milagrosamente’ aceitável e considerado justo. A solução canônica é tão milagrosa que legitima tudo. Até o combate contra a autoridade por questão de opinião pessoal passaria a ser legítimo.

Se, pelo contrário, a FSSPX perseverar na sua posição, seria um fracasso e um grande transtorno, cuja responsabilidade recairia inteiramente sobre a FSSPX.

O sentido verdadeiro das conversas teológicas

Não se trata de posições pessoais, de acordo doutrinal, mas da FSSPX se apresentar doutrinalmente para acabar com este mal-entendimento entre Roma e ela. Não é a FSSPX que escolheu estas conversas, mas a autoridade, e só ela podia decidir isso. No entanto, era desejável que os boatos sobre a FSSPX parassem, e uma boa maneira de fazê-los cessar podia ser com estas conversações. A causa do eventual fracasso das conversações consiste no fato de Roma não conseguir manter dois compromissos incompatíveis – respeitar a Tradição e ao mesmo tempo respeitar o modernismo. O trabalho da FSSPX é justamente evidenciar a impossibilidade de manter este duplo compromisso. Agora que a situação dos acordistas piora por causa deste suposto fracasso, fica evidenciada esta dependência que existe entre a situação concedida por Roma aos acordistas e a atuação da FSSPX. O que é certo também é que quanto mais vamos nos encaminhar para a verdadeira solução da crise, tanto mais o motivo da existência dos institutos “Ecclesia Dei” vá desaparecer. Eles se beneficiam de uma estratégia de Roma para dissolver a FSSPX, uma estratégia mais política e diplomática do que justa e doutrinal. As conversações teológicas revelam a inconsistência dos motivos de Roma para atacar e condenar ou suspeitar da FSSPX de qualquer falta que seja. Então a consequência é que a situação dos acordistas é tão inconsistente quanto os motivos invocados para destruir a FSSPX.

IBP arma-se em juízo da FSSPX e de Roma

A FSSPX teria fracassado a tentativa dos acordistas de realizar a experiência da Tradição. E acusam Roma de ter sido fraca para com a FSSPX, empreendendo faraônicos projetos com a ala dura da FSSPX, em vez de defender os institutos Ecclesia Dei, que querem fazer debaixo da autoridade do Papa a experiência da Tradição.  Como bons apóstolos, dirigem um convite à FSSPX para trabalharem com eles para o Bem da Igreja. São eles que trabalham corajosamente pelo Bem da Igreja, enquanto que a FSSPX permaneceria confortavelmente na sua posição egoísta.

Acusam a fraqueza romana crônica realizando esforços faraônicos para tratar com a ala dura da FSSPX enquanto que abandona sem defesa os institutos Ecclesia Dei. São agora obrigados, contra a sua consciência, a adotar atitudes para obter concessões, ou para não perdê-las. Seria o caso de eles confessarem a sua covardia?

Curiosamente, os dois padres começam a se armar em juízes da situação e a dar diretivas ao Papa: ele não deveria seguir os planos de Dom Fellay, deveria favorecer os acordistas que são os únicos a servir ao Bem da Igreja e se a Fraternidade deixa de se acreditar indispensável, pode também ajudar. Apenas a autoridade pode salvar a Igreja.

Conclusão

Em Conclusão, a coisa que se evidencia neste ataque do IBP é uma confissão de se sentir  fragilizado no momento em que Roma manifesta uma vontade tímida de sair duma situação de confusão pragmático-diplomática, que favoreceu até agora bastantes mentiras, injustiças e “hermenêutica da ruptura”. A busca de esclarecimento doutrinal parece assustá-los. A maneira de denegrir este esforço de Roma e da FSSPX realça a falsidade da posição deles. Sublinham sem querer a sua dependência da atuação da FSSPX, mas este fato é evidente desde a origem da sua existência. São frutos duma estratégia romana para eliminar a FSSPX.

Este texto é da mesma linha de um outro que pretendia ter descoberto uma contradição entre os Padres da FSSPX.

Tentemos conservar então a caridade e a perseverança no bom combate em prol da tradição autêntica, que já durou 40 anos. Rezemos para que haja as conversões necessárias afim de que a legítima reclamação da Tradição seja mais forte, convergente. O abandono da experiência de abertura ao mundo praticada por Roma tem este preço!