{"id":3868,"date":"2013-04-15T21:56:11","date_gmt":"2013-04-16T00:56:11","guid":{"rendered":"http:\/\/www.fsspx.com.br\/exe2\/?p=3868"},"modified":"2013-04-17T10:34:09","modified_gmt":"2013-04-17T13:34:09","slug":"carta-aos-amigos-e-benfeitores-no-80","status":"publish","type":"post","link":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/carta-aos-amigos-e-benfeitores-no-80\/","title":{"rendered":"Carta aos Amigos e Benfeitores n\u00ba 80"},"content":{"rendered":"

\"DomQueridos amigos e benfeitores,<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Faz muito tempo que esta carta era esperada, e \u00e9 com alegria, neste tempo pascal, que quer\u00edamos fazer um balan\u00e7o e expor algumas reflex\u00f5es sobre a situa\u00e7\u00e3o da Igreja.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Como sabem, a Fraternidade encontrou-se numa delicada posi\u00e7\u00e3o durante grande parte do ano 2012, em raz\u00e3o do \u00faltimo movimento feito por Bento XVI que procurava normalizar nossa situa\u00e7\u00e3o. As dificuldades provinham, por um lado, das exig\u00eancias que acompanhavam a proposi\u00e7\u00e3o romana \u2013 as quais n\u00e3o pudemos e n\u00e3o\u00a0 poderemos nunca subscrever \u2013 e, por outro, de uma falta de clareza da parte da Santa S\u00e9 que n\u00e3o permitia conhecer exatamente a vontade do Santo Padre, nem saber o que estava disposto a nos conceder. O problema causado por essa incerteza se dissipou desde 13 de junho de 2012, com uma confirma\u00e7\u00e3o em 30 do mesmo m\u00eas, mediante uma carta do pr\u00f3prio Bento XVI a manifestar claramente e sem ambiguidades as condi\u00e7\u00f5es que nos eram impostas para uma normaliza\u00e7\u00e3o can\u00f4nica.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Estas condi\u00e7\u00f5es s\u00e3o de ordem doutrinal. Recaem sobre a aceita\u00e7\u00e3o total do Conc\u00edlio Vaticano II e da missa de Paulo VI. Portanto, como escreveu Dom Augustine Di Noia, vice-presidente da Comiss\u00e3o Ecclesia Dei<\/i>, em uma carta dirigida aos membros da Fraternidade S\u00e3o Pio X em fins do ano passado, no plano doutrinal permanecemos no ponto de partida, tal como estava nos anos 70. Lamentavelmente n\u00e3o podemos fazer mais do que subscrever a essa comprova\u00e7\u00e3o das autoridades romanas e reconhecer a atualidade da an\u00e1lise de Dom Lefebvre, fundador de nossa Fraternidade, que n\u00e3o variou nas d\u00e9cadas seguintes ao Conc\u00edlio at\u00e9 a sua morte. Sua just\u00edssima percep\u00e7\u00e3o, ao mesmo tempo teol\u00f3gica e pr\u00e1tica, continua vigendo, cinquenta anos depois do in\u00edcio do Conc\u00edlio.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Desejamos recordar essa an\u00e1lise que a Fraternidade S\u00e3o Pio X sempre fez sua e que permanece sendo o fio condutor de sua posi\u00e7\u00e3o doutrinal e de sua a\u00e7\u00e3o: reconhecendo que a crise que sacode a Igreja tamb\u00e9m tem causas externas, o pr\u00f3prio Conc\u00edlio \u00e9 o agente principal de sua autodestrui\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Em fins do Conc\u00edlio, Dom Lefebvre exp\u00f4s ao Cardeal Alfredo Ottaviani, em carta datada de 20 de dezembro de 1966, os danos causados pelo Conc\u00edlio a toda a Igreja. Eu j\u00e1 a citava na Carta aos amigos e benfeitores n\u00ba 68, de 29 de setembro de 2005. \u00c9 conveniente reler hoje em dia algumas passagens:<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Enquanto o Conc\u00edlio se preparava para projetar um raio luminoso sobre o mundo de hoje caso houvessem sido utilizados os esquemas preparados, nos quais se encontrava uma profiss\u00e3o solene da doutrina segura em face dos problemas modernos, pode-se e deve-se desgra\u00e7adamente afirmar:<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Que de maneira quase geral, quando o Conc\u00edlio inovou, fez balan\u00e7ar a certeza das verdades ensinadas pelo Magist\u00e9rio aut\u00eantico da Igreja como pertencentes definitivamente ao tesouro da Tradi\u00e7\u00e3o.<\/i><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Quer se trate da transmiss\u00e3o da jurisdi\u00e7\u00e3o dos bispos, das duas fontes da Revela\u00e7\u00e3o, da inspira\u00e7\u00e3o da Escritura, da necessidade da gra\u00e7a para a justifica\u00e7\u00e3o, da necessidade do batismo cat\u00f3lico, da vida da gra\u00e7a nos hereges, cism\u00e1ticos e pag\u00e3os, dos fins do matrim\u00f4nio, da liberdade religiosa, dos nov\u00edssimos, etc. Sobre esses pontos fundamentais a doutrina tradicional era clara e ensinada unanimemente nas universidades cat\u00f3licas. Ora, numerosos textos do Conc\u00edlio acerca dessas verdades permitem que agora se duvide.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

\"Dom

<\/span> Dom Marcel Lefebvre<\/span><\/p><\/div>\n

“As consequ\u00eancias foram rapidamente extra\u00eddas e aplicadas na vida da Igreja:<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“\u2013 As d\u00favidas sobre a necessidade da Igreja e dos sacramentos implicam o desaparecimento das voca\u00e7\u00f5es sacerdotais.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“\u2013 As d\u00favidas sobre a necessidade e a natureza da convers\u00e3o<\/i> de toda alma implicam o desaparecimento das voca\u00e7\u00f5es religiosas, a ru\u00edna da espiritualidade tradicional nos noviciados e a inutilidade das miss\u00f5es.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“\u2013 As d\u00favidas sobre a legitimidade da autoridade e a exig\u00eancia da obedi\u00eancia provocadas pela exalta\u00e7\u00e3o da dignidade humana, da autonomia da consci\u00eancia e da liberdade, comovem todas as sociedades, come\u00e7ando pela Igreja, as congrega\u00e7\u00f5es religiosas, as dioceses, a sociedade civil e a fam\u00edlia.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“\u2013 O orgulho tem por consequ\u00eancia natural todas as concupisc\u00eancias dos olhos e da carne. Talvez uma das comprova\u00e7\u00f5es mais horr\u00edveis da nossa \u00e9poca \u00e9 ver a que degrada\u00e7\u00e3o moral chegou a maior parte das publica\u00e7\u00f5es cat\u00f3licas. Fala-se sem nenhum pudor da sexualidade, da limita\u00e7\u00e3o dos nascimentos por todos os meios, da legitimidade do div\u00f3rcio, da educa\u00e7\u00e3o mista, do namoro, das boates como meios necess\u00e1rios para a educa\u00e7\u00e3o crist\u00e3, para o celibato sacerdotal, etc.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“\u2013 As d\u00favidas sobre a necessidade da gra\u00e7a para a salva\u00e7\u00e3o provocam o menosprezo do batismo, atualmente relegado para mais tarde, e o abandono do sacramento da penit\u00eancia. Ademais, trata-se sobretudo de uma atitude dos sacerdotes, n\u00e3o dos fi\u00e9is. O mesmo sucede com a presen\u00e7a real: s\u00e3o os sacerdotes os que agem como se j\u00e1 n\u00e3o cressem, escondendo o Sant\u00edssimo Sacramento, suprimindo todas as manifesta\u00e7\u00f5es de respeito com o Sant\u00edssimo e todas as cerim\u00f4nias em sua honra.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“\u2013 As d\u00favidas sobre a necessidade da Igreja como \u00fanica arca de salva\u00e7\u00e3o, sobre a Igreja cat\u00f3lica como a \u00fanica verdadeira religi\u00e3o, provenientes das declara\u00e7\u00f5es sobre o ecumenismo e a liberdade religiosa, destroem a autoridade do Magist\u00e9rio da Igreja. Com efeito, Roma j\u00e1 n\u00e3o \u00e9 a Mestra da Verdade<\/i> \u00fanica e necess\u00e1ria.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Consequentemente, movido pelos fatos, \u00e9 preciso concluir que o Conc\u00edlio favoreceu de maneira inconceb\u00edvel a difus\u00e3o dos erros liberais. A f\u00e9, a moral e a disciplina crist\u00e3 s\u00e3o abaladas em seus fundamentos, assim como predisseram todos os Papas.<\/b><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/b><\/span><\/p>\n

“A destrui\u00e7\u00e3o da Igreja avan\u00e7a a passos largos. Gra\u00e7as a uma desmedida autoridade concedida \u00e0s confer\u00eancias dos bispos, o Sumo Pont\u00edfice atou os pr\u00f3prios p\u00e9s e as pr\u00f3prias m\u00e3os. Quantos exemplos dolorosos num s\u00f3 ano! N\u00e3o obstante, o Sucessor de Pedro, e somente o Sucessor de Pedro, pode salvar a Igreja.<\/b><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

\"Dom

<\/span> Dom Antonio de Castro Mayer<\/span><\/p><\/div>\n

“Que o Santo Padre se rodeie de vigorosos defensores da f\u00e9; que ele os nomeie para as dioceses importantes. Queira por meio de importantes documentos proclamar a f\u00e9, perseguir o erro, sem temer as contradi\u00e7\u00f5es, sem temer os cismas, sem temer desafiar as disposi\u00e7\u00f5es pastorais do Conc\u00edlio.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Queira o Santo Padre encorajar os bispos a recuperar a f\u00e9 e a moral individualmente, cada um em suas respectivas dioceses, como conv\u00e9m a todo bom pastor; sustentar os bispos valentes, incit\u00e1-los a reformar seus semin\u00e1rios, a restaurar os estudos segundo Santo Tom\u00e1s; incitar os superiores gerais a manter nos noviciados e nas comunidades os princ\u00edpios fundamentais de toda a ascese crist\u00e3, sobretudo a obedi\u00eancia; fomentar o desenvolvimento das escolas cat\u00f3licas, a impressa de boa doutrina, as associa\u00e7\u00f5es de fam\u00edlias crist\u00e3s; enfim, repreender os fautores de erros e reduzi-los ao sil\u00eancio. As alocu\u00e7\u00f5es das quartas-feiras n\u00e3o podem substituir as enc\u00edclicas, as diretivas e as cartas aos bispos.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Sem d\u00favida estou sendo demasiado temer\u00e1rio ao expressar-me desta maneira. Por\u00e9m, componho estas linhas movido por um amor ardente, amor pela gl\u00f3ria de Deus, amor por Jesus Cristo, amor por Maria, por sua Igreja, pelo Sucessor de Pedro, bispo de Roma, Vig\u00e1rio de Jesus Cristo.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Em 21 de novembro de 1974, depois da visita apost\u00f3lica feita ao semin\u00e1rio de Ec\u00f4ne, Dom Lefebvre julgou necess\u00e1rio resumir sua posi\u00e7\u00e3o na c\u00e9lebre declara\u00e7\u00e3o que ter\u00e1 como consequ\u00eancia, alguns meses mais tarde, na injusta supress\u00e3o can\u00f4nica da Fraternidade S\u00e3o Pio X, que nosso fundador e seus sucessores sempre consideraram nula. Esse texto capital se abria com esta profiss\u00e3o de f\u00e9, que \u00e9 a de todos os membros da Fraternidade:<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Aderimos de todo o cora\u00e7\u00e3o e com toda a nossa alma \u00e0 Roma cat\u00f3lica, guardi\u00e3 da f\u00e9 cat\u00f3lica e das tradi\u00e7\u00f5es necess\u00e1rias para manter essa f\u00e9; \u00e0 Roma eterna, mestra da sabedoria e da verdade.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Rejeitamos, ao contr\u00e1rio, e temos sempre rejeitado, seguir a Roma de tend\u00eancia neomodernista e neoprotestante que se manifestou claramente no Conc\u00edlio Vaticano II e, depois do Conc\u00edlio, em todas as reformas que dele sa\u00edram.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Todas essas reformas, de fato, contribu\u00edram e contribuem ainda para a demoli\u00e7\u00e3o da Igreja, para a ru\u00edna do sacerd\u00f3cio, para a aniquila\u00e7\u00e3o do Sacrif\u00edcio e dos sacramentos, para o desaparecimento da vida religiosa, para um ensino naturalista e teillardiano nas universidades, nos semin\u00e1rios, na catequese; ensino sa\u00eddo do liberalismo e do protestantismo condenados repetidas vezes pelo magist\u00e9rio solene da Igreja.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

E esta declara\u00e7\u00e3o conclu\u00eda com as seguintes linhas:<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“A \u00fanica atitude de fidelidade \u00e0 Igreja e \u00e0 doutrina cat\u00f3lica, para nossa salva\u00e7\u00e3o, \u00e9 a rejei\u00e7\u00e3o categ\u00f3rica da aceita\u00e7\u00e3o da reforma.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Por isso, sem nenhuma rebeli\u00e3o, sem nenhuma amargura, sem nenhum ressentimento, prosseguimos nossa obra de forma\u00e7\u00e3o sacerdotal sob a \u00e9gide do magist\u00e9rio de sempre, persuadidos de que n\u00e3o podemos prestar maior servi\u00e7o \u00e0 Santa Igreja cat\u00f3lica, ao Sumo Pont\u00edfice e \u00e0s gera\u00e7\u00f5es futuras.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Em 1983, recordando o sentido do combate pela Tradi\u00e7\u00e3o, Dom Lefebvre dirigia um manifesto episcopal a Jo\u00e3o Paulo II, assinado junto com Dom Ant\u00f4nio de Castro Mayer, no qual denunciava uma vez mais a devasta\u00e7\u00e3o causada pelas reformas p\u00f3s-conciliares e o esp\u00edrito nefasto que se difundiu por todas as partes. Sublinhava em particular os pontos seguintes em rela\u00e7\u00e3o ao falso ecumenismo, \u00e0 colegialidade, \u00e0 liberdade religiosa, ao poder do papa e \u00e0 nova missa:<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

– O falso ecumenismo:<\/i><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/b><\/span><\/p>\n

“Este ecumenismo tamb\u00e9m \u00e9 contr\u00e1rio aos ensinamentos de Pio XI na enc\u00edclica Mortalium animos<\/i>: sobre esse particular \u00e9 oportuno expor e rejeitar certa opini\u00e3o falsa, que est\u00e1 na raiz deste problema e deste complexo movimento pelo qual os n\u00e3o-cat\u00f3licos se esfor\u00e7am por realizar a uni\u00e3o das igrejas crist\u00e3s. Os que aderem a essa opini\u00e3o citam constantemente as palavras de Cristo: ‘Que sejam um… e n\u00e3o haja mais que um s\u00f3 rebanho e um s\u00f3 pastor’ (Jo 17,21 e 10,16) e pretendem que por essas palavras Cristo manifesta um desejo ou uma prece que nunca se fez realidade. Pretendem de fato que a unidade da f\u00e9 e de governo, que \u00e9 uma das notas da verdadeira Igreja de Cristo, praticamente at\u00e9 hoje nunca existiu e atualmente n\u00e3o existe.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Este ecumenismo, condenado pela moral e pelo direito cat\u00f3licos, chega a permitir a recep\u00e7\u00e3o dos sacramentos da penit\u00eancia, da eucaristia e da extrema-un\u00e7\u00e3o das m\u00e3os de ‘ministros n\u00e3o-cat\u00f3licos’ (C\u00e2non 844 N. C.) e favorece a ‘hospitalidade ecum\u00eanica’ autorizando os ministros cat\u00f3licos a dar o sacramento da eucaristia aos n\u00e3o-cat\u00f3licos.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

– A colegialidade:<\/i><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“A doutrina j\u00e1 sugerida pelo documento Lumen gentium<\/em> do Conc\u00edlio Vaticano II ser\u00e1 retomada expl\u00edcitamente pelo novo Direito Can\u00f4nico (C\u00e2n. 336); doutrina segundo a qual o col\u00e9gio dos bispos junto com o Papa goza igualmente do poder supremo na Igreja e isso de um modo habitual e constante.<\/span><\/p>\n

\n

“A doutrina do duplo poder supremo<\/i> \u00e9 contr\u00e1ria ao ensino e \u00e0 pr\u00e1tica do magist\u00e9rio da Igreja, especialmente do Conc\u00edlio Vaticano I (DZ. 3055), e da enc\u00edclica de Le\u00e3o XIII Satis cognitum<\/i>. S\u00f3 o Papa goza do supremo poder, que ele comunica na medida que julga oportuno e em circunst\u00e2ncias extraordin\u00e1rias.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“A esse grave erro est\u00e1 ligada a orienta\u00e7\u00e3o democr\u00e1tica da Igreja: os poderes residiriam no ‘povo de Deus’, tal como \u00e9 definido no novo Direito. Esse erro jansenista foi condenado pela Bula Auctorem fidei<\/i> de Pio VI (DZ. 2602).”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

\"Pio

<\/span> Pio IX<\/span><\/p><\/div>\n

– A liberdade religiosa:<\/i><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“A declara\u00e7\u00e3o Dignitatis humanae<\/i> do Conc\u00edlio Vaticano II afirma a exist\u00eancia de um falso direito natural do homem em mat\u00e9ria religiosa, contrariamente aos ensinos pontif\u00edcios, que negam formalmente semelhante blasf\u00eamia.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Assim, Pio IX na enc\u00edclica Quanta cura<\/i> e no Syllabus<\/i>, Le\u00e3o XIII em suas enc\u00edclicas Libertas praestantissimum<\/i> e Immortale Dei<\/i>, Pio XII em sua alocu\u00e7\u00e3o Ci Riesce<\/i> aos juristas cat\u00f3licos italianos, negam que a raz\u00e3o e a revela\u00e7\u00e3o fundamentem tal direito.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“O Vaticano II cr\u00ea e professa, de maneira universal, que ‘a verdade n\u00e3o pode impor-se sen\u00e3o pela for\u00e7a pr\u00f3pria da verdade’, o que se op\u00f5e formalmente aos ensinamentos de Pio VI contra os jansenistas do concili\u00e1bulo de Pistoia (DZ. 2604). O Conc\u00edlio chega ao absurdo de afirmar o direito de n\u00e3o aderir e de n\u00e3o seguir a verdade, de obrigar os governos civis a n\u00e3o discriminar por motivos religiosos, estabelecendo a igualdade jur\u00eddica entre as falsas e a verdadeira religi\u00e3o. (…)<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“As consequ\u00eancias do reconhecimento por parte do Conc\u00edlio desse falso direito do homem destr\u00f3i os fundamentos do reinado social de Nosso Senhor, abala a autoridade e o poder da Igreja em sua miss\u00e3o de fazer reinar Nosso Senhor nos esp\u00edritos e nos cora\u00e7\u00f5es, levando adiante o combate contra as for\u00e7as sat\u00e2nicas que subjugam as almas. Esse esp\u00edrito mission\u00e1rio ser\u00e1 acusado de proselitismo exagerado.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“A neutralidade dos Estados em mat\u00e9ria religiosa \u00e9 injuriosa para Nosso Senhor e para a sua Igreja, quando se trata de Estados com maioria cat\u00f3lica.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

– O poder do Papa:<\/i><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/i><\/span><\/p>\n

“\u00c9 certo que o poder do Papa na Igreja \u00e9 um poder supremo, mas n\u00e3o pode ser absoluto e sem limites, porquanto est\u00e1 subordinado ao poder divino, que se expressa na Tradi\u00e7\u00e3o, na Sagrada Escritura e nas defini\u00e7\u00f5es j\u00e1 promulgados pelo magist\u00e9rio eclesi\u00e1stico (DZ. 3116).<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“O poder do Papa est\u00e1 subordinado e limitado pelo fim para o qual seu poder lhe foi dado. Esse fim foi claramente definido pelo Papa Pio IX na Constitui\u00e7\u00e3o Pastor aeternus<\/i> do Conc\u00edlio Vaticano I (DZ. 3070). Seria um abuso de poder intoler\u00e1vel modificar a constitui\u00e7\u00e3o da Igreja e pretender invocar o direito humano contra o direito divino, como na liberdade religiosa, como na hospitalidade eucar\u00edstica autorizada pelo novo Direito, como na afirma\u00e7\u00e3o dos dois poderes supremos na Igreja.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Est\u00e1 claro que nesses casos e em outros semelhantes \u00e9 dever de todo cl\u00e9rigo e fiel cat\u00f3lico resistir e recusar obedi\u00eancia. A obedi\u00eancia cega \u00e9 um contrassenso e ningu\u00e9m est\u00e1 isento de responsabilidade por ter obedecido aos homens mais que a Deus (DZ. 3116); e essa resist\u00eancia deve ser p\u00fablica se o mal \u00e9 p\u00fablico e \u00e9 um objeto de esc\u00e2ndalo para as almas (Suma teol\u00f3gica, II-II, 33, 4).<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Esses s\u00e3o princ\u00edpios elementares de moral, que regulam as rela\u00e7\u00f5es dos sujeitos com todas as autoridades leg\u00edtimas.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Essa resist\u00eancia encontra, ademais, uma confirma\u00e7\u00e3o no fato de que atualmente s\u00e3o castigados os que se aferram firmemente \u00e0 Tradi\u00e7\u00e3o e \u00e0 f\u00e9 cat\u00f3lica, e que aqueles que professam doutrinas heterodoxas ou realizam verdadeiros sacril\u00e9gios n\u00e3o s\u00e3o inquietados de modo algum. Essa \u00e9 a l\u00f3gica do abuso de poder.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

– A missa nova:<\/i><\/span><\/p>\n

\u00a0<\/i><\/span><\/p>\n

“Em oposi\u00e7\u00e3o aos ensinos do Conc\u00edlio de Trento, em sua sess\u00e3o XXII, em oposi\u00e7\u00e3o \u00e0 enc\u00edclica Mediator Dei<\/i> de Pio XII, exagerou-se o lugar dos fi\u00e9is na participa\u00e7\u00e3o na missa e se diminuiu o lugar do sacerdote, convertido em simples presidente. Exagerou-se o lugar da liturgia da palavra e se diminuiu o lugar do sacrif\u00edcio propiciat\u00f3rio. Exaltou-se a refei\u00e7\u00e3o comunit\u00e1ria e se imp\u00f4s a laiciza\u00e7\u00e3o, \u00e0 custa do respeito e da f\u00e9 na presen\u00e7a real pela transubstancia\u00e7\u00e3o.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

“Suprimindo-se a l\u00edngua sagrada, pluralizaram-se ao infinito os ritos, profanando-os com contribui\u00e7\u00f5es mundanas ou pag\u00e3s, e se difundiram falsas tradu\u00e7\u00f5es \u00e0 custa da verdadeira f\u00e9 e da verdadeira piedade dos fi\u00e9is.”<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Em 1986, a prop\u00f3sito do encontro inter-religioso de Assis, que constitu\u00eda um esc\u00e2ndalo inaudito na Igreja cat\u00f3lica e principalmente uma viola\u00e7\u00e3o do primeiro de todos os mandamentos \u2013 “adorar\u00e1s a um s\u00f3 Deus” \u2013, durante o qual se viu o Vig\u00e1rio de Cristo convidar os representantes de todas as religi\u00f5es a invocarem seus falsos deuses, Dom Lefebvre protestou veementemente. Dir\u00e1 inclusive ter visto nesse acontecimento insuport\u00e1vel para todo cora\u00e7\u00e3o cat\u00f3lico um dos sinais que havia pedido ao C\u00e9u antes de poder proceder \u00e0s consagra\u00e7\u00f5es episcopais.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

\"Padre

<\/span> Padre Schmidberger<\/span><\/p><\/div>\n

Na Carta aos Amigos e Benfeitores n\u00ba 40, de 2 de fevereiro de 1991, o Padre Franz Schmidberger, segundo Superior geral da Fraternidade S\u00e3o Pio X, retomou o conjunto da quest\u00e3o e recordou a posi\u00e7\u00e3o cat\u00f3lica em um pequeno comp\u00eandio dos erros contempor\u00e2neos opostos \u00e0 f\u00e9. E n\u00f3s pedimos a alguns sacerdotes que resumissem numa esp\u00e9cie de vade-m\u00e9cum o conjunto desses pontos em diversos escritos depois publicados, um dos quais \u00e9 o not\u00e1vel Catecismo cat\u00f3lico da crise na Igreja<\/i> do Padre Matthias Gaudron.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Atualmente, seguindo a mesma linha, n\u00e3o podemos fazer outra coisa sen\u00e3o repetir o que afirmaram Dom Lefebvre e depois dele o P. Schmidberger. Todos os erros que denunciaram, n\u00f3s os denunciamos. Suplicamos ao C\u00e9u e \u00e0s autoridades da Igreja, em particular ao novo Sumo Pont\u00edfice, o Papa Francisco, Vig\u00e1rio de Cristo, sucessor de Pedro, que n\u00e3o deixem que as almas se percam por n\u00e3o receber mais a s\u00e3 doutrina, o dep\u00f3sito revelado, a f\u00e9, sem a qual ningu\u00e9m pode salvar-se e agradar a Deus.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

De que serve dedicar-se aos homens enquanto se oculta deles o essencial, o fim e o sentido de suas vidas, e a gravidade do pecado que os afasta daquilo? A caridade pelos pobres, pelos mais desfavorecidos, pelos relegados, pelos enfermos sempre foi uma verdadeira preocupa\u00e7\u00e3o da Igreja, e n\u00e3o se deve prescindir disso; mas se isso se reduz \u00e0 pura filantropia e ao antropocentrismo, ent\u00e3o a Igreja j\u00e1 n\u00e3o cumpre sua miss\u00e3o, n\u00e3o conduz as almas a Deus, o que n\u00e3o pode ser feito realmente sen\u00e3o pelos meios sobrenaturais, a f\u00e9, a esperan\u00e7a, a caridade, a gra\u00e7a; e, portanto, denunciando todo o oposto: os erros contra a f\u00e9 e contra a moral. Porque se os homens pecam pela falta dessa den\u00fancia, condenam-se para toda a eternidade. A raz\u00e3o de ser da Igreja \u00e9 salv\u00e1-los e faz\u00ea-los evitar a desgra\u00e7a de sua eterna condena\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Evidentemente, isso n\u00e3o ser\u00e1 do agrado do mundo, que ent\u00e3o se voltar\u00e1 contra a Igreja, frequentemente com viol\u00eancia, como nos mostra a hist\u00f3ria.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Estamos, pois, na P\u00e1scoa de 2013 e a situa\u00e7\u00e3o da Igreja continua praticamente sem mudan\u00e7as. As palavras de Dom Lefebvre t\u00eam um acento prof\u00e9tico. Tudo se verificou e tudo continua para grande desgra\u00e7a das almas que j\u00e1 n\u00e3o escutam de seus pastores a mensagem de salva\u00e7\u00e3o.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Sem deixar-nos esmagar, seja pela dura\u00e7\u00e3o dessa terr\u00edvel crise, seja pela quantidade de prelados e de bispos que prosseguem a autodestrui\u00e7\u00e3o da Igreja, como o reconhecia Paulo VI, continuamos proclamando, na medida de nossos meios, que a Igreja n\u00e3o pode mudar seus dogmas nem sua moral. Porque n\u00e3o se tocam suas vener\u00e1veis institui\u00e7\u00f5es sem provocar um verdadeiro desastre. Se certas modifica\u00e7\u00f5es acidentais que recaem sobre a forma exterior devem ser feitas \u2013 como se produz em todas as institui\u00e7\u00f5es humanas \u2013, elas n\u00e3o podem ser feitas em nenhum caso em oposi\u00e7\u00e3o aos princ\u00edpios que guiaram a Igreja em todos os s\u00e9culos precedentes.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

\"S.A consagra\u00e7\u00e3o a S\u00e3o Jos\u00e9, decidida pelo Cap\u00edtulo geral de julho de 2012, sucede justamente neste momento decisivo. Por que S\u00e3o Jos\u00e9? Porque \u00e9 o Patrono da Igreja cat\u00f3lica. Ele continua tendo para com o Corpo m\u00edstico o papel que Deus Pai lhe confiou com rela\u00e7\u00e3o ao seu divino Filho. Sendo Cristo o chefe da Igreja, cabe\u00e7a do Corpo m\u00edstico, da\u00ed segue que aquele que tinha o cargo de proteger o Messias, o Filho de Deus feito homem, veja estender-se sua miss\u00e3o a todo o Corpo m\u00edstico.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Assim como seu papel foi muito discreto e em grande parte oculto \u2013 mas ao mesmo tempo perfeitamente eficaz \u2013, assim tamb\u00e9m esta fun\u00e7\u00e3o protetora \u2013 igualmente eficaz para a Igreja \u2013 se realiza hoje em dia com grande discri\u00e7\u00e3o. S\u00f3 com o passar dos s\u00e9culos \u00e9 que se foi manifestado mais e mais clara a devo\u00e7\u00e3o a S\u00e3o Jos\u00e9. Um dos maiores santos, um dos mais discretos. Seguindo a Pio IX, que o declarou Patrono de toda a Igreja, sobre os passos de Le\u00e3o XIII, que confirmou esse papel e inaugurou a magn\u00edfica Ora\u00e7\u00e3o a S\u00e3o Jos\u00e9, Patrono da Igreja universal<\/i> \u2013 que n\u00f3s rezamos todos os dias na Fraternidade \u2013, seguindo a S\u00e3o Pio X, que professava uma devo\u00e7\u00e3o especial por S\u00e3o Jos\u00e9, cujo nome levava, queremos fazer nossas, neste momento dram\u00e1tico da hist\u00f3ria da Igreja, essa devo\u00e7\u00e3o e esse patroc\u00ednio.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

Queridos amigos e benfeitores da Fraternidade S\u00e3o Pio X, eu os aben\u00e7oo de todo o cora\u00e7\u00e3o, expressando-lhes minha gratid\u00e3o por suas ora\u00e7\u00f5es e sua generosidade em favor da obra de restaura\u00e7\u00e3o da Igreja iniciada por Dom Lefebvre. Mais ainda, pe\u00e7o a S\u00e3o Jos\u00e9 que lhes obtenha as gra\u00e7as divinas que suas fam\u00edlias necessitam para permanecerem fi\u00e9is \u00e0 Tradi\u00e7\u00e3o cat\u00f3lica.<\/span><\/p>\n

\u00a0<\/span><\/p>\n

+ Bernard Fellay<\/span><\/p>\n","protected":false},"excerpt":{"rendered":"

Carta aos amigos e benfeitores n.80 – Abril de 2013<\/p>\n","protected":false},"author":1,"featured_media":3880,"comment_status":"open","ping_status":"open","sticky":false,"template":"","format":"standard","meta":{"_et_pb_use_builder":"","_et_pb_old_content":"","_et_gb_content_width":"","footnotes":""},"categories":[131,109,11,38,39],"tags":[],"_links":{"self":[{"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3868"}],"collection":[{"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts"}],"about":[{"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/types\/post"}],"author":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/users\/1"}],"replies":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/comments?post=3868"}],"version-history":[{"count":0,"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/posts\/3868\/revisions"}],"wp:featuredmedia":[{"embeddable":true,"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media\/3880"}],"wp:attachment":[{"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/media?parent=3868"}],"wp:term":[{"taxonomy":"category","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/categories?post=3868"},{"taxonomy":"post_tag","embeddable":true,"href":"https:\/\/www.fsspx.com.br\/wp-json\/wp\/v2\/tags?post=3868"}],"curies":[{"name":"wp","href":"https:\/\/api.w.org\/{rel}","templated":true}]}}