No século XIX e início do século XX, a Igreja padeceu severas perseguições no Brasil, na França e em vários outros países. Os governos, sob a influência da maçonaria, multiplicaram leis hostis aos católicos, por vezes chegando ao ponto de perpetrar massacres em grande escala, como no México. 

Ao se iniciar tais perseguições, as congregações religiosas “ativas” eram toleradas. É difícil ficar sem os serviços de milhares de almas consagradas que se dedicam livremente a obras de educação e caridade: escolas, orfanatos, hospitais, assistência aos pobres, asilos, etc…. É longa a lista dos benefícios da Igreja. As primeiras vítimas são, muitas vezes, as ordens contemplativas, que não têm um apostolado propriamente dito. Estes monges e freiras “só rezam”. Para os ímpios, eles são, portanto, inúteis e até prejudiciais para a nação – essas ordens devem ser suprimidas.

Numa época em que as circunstâncias limitam a nossa vida àquela dos monges, a humanidade pode adquirir uma visão correta da vida consagrada.

Sem Deus, o mundo não tem explicação e nossa existência não tem sentido. Permanecemos brevemente na Terra para merecer a felicidade do Céu, crescendo continuamente em santidade. Como a oração é justamente uma elevação da alma para Deus, não há nada mais útil e importante para nós. A oração mais bonita é o Santo Sacrifício da Missa, que o Padre Pio dizia ser mais indispensável à humanidade do que o Sol!

Por isso, deveríamos passar a vida rezando. Infelizmente, as circunstâncias de nossa vida terrena não o permitem. Nesse contexto, os mosteiros têm uma dupla utilidade: homens e mulheres religiosos rezam incessantemente em nome de todos aqueles que não têm a possibilidade de fazê-lo, e sua vigilância nos lembra do essencial. É por isso que os chefes de Estado católicos sempre consideraram essas casas religiosas como sendo de utilidade pública, empenhando-se para que fossem fundadas e mantidas.

Para nós, que não temos vocação monástica, as ocupações da vida cotidiana nos causam certo perigo – acaso nossa vida de oração não se encontra permanentemente dificultada? O claustro da nossa alma é constantemente assaltado por mil tentações.  Sob esse aspecto, o confinamento é uma graça, por nos proporcionar um claustro natural: a nossa casa. É a oportunidade perfeita para respirar… Sim, a oração é a respiração da nossa alma – não hesitemos em respirar profundamente.

Além das habituais devoções do cristão, muitas outras nos são oferecidas: o Santo Terço, a Via Sacra, novenas, meditações diversas, etc…

Se a casa for suficientemente grande, usemos um dos cômodos como oratório. Todos poderão vir e meditar neste lugar tranquilo, e nesse lugar a oração em comum poderá ser feita com proveito. Caso não tenhamos espaço, instalemos a imagem de Nosso Senhor, do Sagrado Coração ou um crucifixo no lugar de honra da sala comum.

As melodias celestiais dos coros monásticos ajudarão a elevar as nossas almas e a aliviar as tensões domésticas. Alguns podem até cantar as Completas em lugar da oração noturna. E por que não estabelecer um tempo de silêncio durante o dia?

“Ora, então é necessário transformar nossa casa em um mosteiro?”, poder-se-ia perguntar. Não! Não somos monges! Mas, então, qual é o segredo para rezar sempre, digamos, sem rezar? Que toda a nossa vida seja uma oração. O incenso que se eleva aos céus é um símbolo da oração agradável a Deus; tal como o incenso de suave aroma, o cristão oferece uma oblação digna quando preenche a sua vida de virtudes agradáveis a Deus.

Está começando a Semana Santa. A Igreja propõe à nossa meditação a narração da Paixão do Senhor. No Getsêmani, Ele dirige este apelo angustiado não somente a São Pedro, mas a nós todos: “Visto isso não pudeste vigiar uma hora comigo? Vigiai e orai, para que não entreis em tentação. O espírito na verdade está pronto, mas a carne é fraca.” 

Padre Jean-François Mouroux, FSSPX
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